A presença do governador do Ceará Elmano de Freitas na primeira noite do “Congresso Ceará Pentecostal”, na última quinta-feira, por si só causaria, no mínimo, surpresa a um observador atento da política alencarina.
Motivo? O evento é promovido pela Igreja do Senhor Jesus, fundada e presidida pelo Apóstolo Luiz Henrique, deputado estadual pelo Republicanos, e reúne importantes nomes do pentecostalismo nacional entre louvores, danças, profecias, glossolalia e performances. No ano de 2024, não poderia faltar política!
O/a leitor/a ainda não entendeu a surpresa? Explico-me: enquanto o atual governador era deputado estadual e líder do governo Camilo, vários foram os embates com seu colega de Casa, momentos nos quais acusações de anticristianismo e inimizade com o “povo de deus” pululavam em direção ao petista, posicionado pelo líder evangélico, e por outros deputados da Casa, como adversário das pautas caras ao segmento; em outras palavras, Elmano defendia pautas que eram contrárias ao Evangelho.
Num desses momentos de embate, quando se votava o projeto de lei 578/2019, de autoria de quatro deputados petistas (Elmano, inclusive), e que versava sobre punição a crimes de intolerância religiosa, o Apóstolo, que se opunha ao texto, chegou a sugerir que o projeto dos petistas objetivava punir e prender pastores.
O que mudou, então?
Luiz Henrique tem marcado sua atuação parlamentar num duplo movimento: é reconhecidamente um deputado que encampa a famigerada “agenda conservadora” na Casa, em especial combatendo a tal “ideologia de gênero”, no que junta-se aos “bolsonaristas” alencarinos; contudo, desde a pandemia, marca certa distância deles, em especial quando defendeu a vacinação contra a Covid-19 como algo “cristão”.
Além disso, em três ocasiões, desde o final do ano passado, entrou em atrito com colegas de Casa exatamente por se opor à identificação entre ser evangélico e ser bolsonarista: “deve-se adorar a deus e não a homens”, foi o que disse. Com isso, abriu caminho para a aproximação do petismo.
O governo deve lembrar os ataques que Sarto recebeu na eleição de 2020, que davam conta de que, uma vez eleito, poria em sério risco a cristandade da cidade (era o que diziam setores do evangelicalismo, que marchavam com Wagner). No contexto do confinamento social, o candidato apoiado por Camilo, que “fechou igrejas” por decretos de distanciamento, também “fecharia igrejas” e representava “ameaças”.
Sabendo disso, melhor seria blindar Evandro, candidato pelo PT, numa campanha em que as chances reais de polarização com André, bolsonarista, são reais e levarão, ao fim e ao cabo, ao uso das diversas gramáticas disponíveis.
Então, o PT, acusado de perseguir cristãos, chegará à eleição municipal como o Partido que, no plano estadual, distribuirá Bíblias e poderá inserir, de modo transversal, seu estudo na grade curricular do Ensino Médio.
Pela Bíblia, ou pelos votos que se poderá obter a partir do seu “uso”, antigos inimigos, inclusive os “inimigos de deus” ou os “inimigos da democracia”, convertem-se em amigos, colaboradores do reino ou do governo do povo.