O Brasil alcançou um feito histórico — só que do tipo que ninguém quer comemorar. O país obteve sua pior nota e a colocação mais vergonhosa no Índice de Percepção da Corrupção (IPC) da Transparência Internacional desde o início da série histórica comparável, em 2012. Com apenas 34 pontos, o Brasil se junta ao seleto grupo de nações onde a integridade pública é, no máximo, um detalhe.
O que aconteceu:
• Pior nota da história recente: O Brasil perdeu nove pontos em relação aos melhores anos (2012 e 2014) e despencou 38 posições.
• Companhia indigesta: Agora estamos no mesmo patamar de Argélia, Malauí e Nepal, bem longe dos tempos em que empatávamos com Itália e Bulgária.
• A conta chegou: O desmonte da Lava-Jato e o fracasso em implementar reformas estruturais fizeram o país regredir mais do que progredir.
O que dizem os especialistas:
Bruno Brandão, diretor da Transparência Internacional-Brasil, não economizou críticas:
“Ao invés de corrigir os erros da Lava-Jato, o Brasil liquidou a operação e ignorou as raízes sistêmicas da corrupção. O crime organizado agora é uma presença explícita nas instituições estatais.”
Vá mais fundo
O país parece ter normalizado o absurdo. O relatório destaca o “silêncio reiterado” de Lula sobre o tema anticorrupção, o crescimento descontrolado das emendas parlamentares e a aprovação da PEC da Anistia, que legaliza práticas condenáveis sob o manto da lei. Na prática, o Brasil institucionalizou a corrupção, transformando-a em política pública.
Corrupção climática: o crime que mata duas vezes
A corrupção não para nas emendas e nos gabinetes. Ela chega também à crise climática:
• Fraudes no Dnocs prejudicam o combate à seca no Nordeste.
• Esquemas de grilagem de terras e créditos de carbono drenam recursos que deveriam salvar o meio ambiente.
• Violência contra defensores ambientais é a ponta mais cruel dessa cadeia de crimes.
Renato Morgado, da Transparência Internacional, alerta:
“O Brasil só enfrentará as mudanças climáticas de forma eficiente se combater a corrupção. Sem isso, seremos palco de discursos vazios na COP do clima, em Belém.”
O impacto global (e o vexame também)
Em um ano em que o Brasil presidiu o G20 e se prepara para sediar a COP, o recado para o mundo é claro: não somos referência em integridade, mas podemos ensinar como desmontar estruturas anticorrupção em tempo recorde.
No ranking da vergonha:
• Acima de nós: México e Rússia (sim, até eles conseguiram piorar mais).
• Lá no topo: Dinamarca, Finlândia e Cingapura, com mais de 80 pontos, mostram que é possível fazer diferente.
O que esperar agora?
Com o avanço do crime organizado no setor público, o desmonte das instituições de controle e a complacência política, o Brasil parece ter escolhido seu lado. Resta saber se a sociedade aceitará o papel de espectadora ou se reagirá ao novo normal: um país onde a corrupção não é mais escândalo, é rotina.