Leio nos jornais que está em curso mais uma “federação”. Desta vez, o histórico PSB de Miguel Arraes e Eduardo Campos deverá se juntar ao Cidadania, que já foi o PPS de Roberto Freire, antes de ter sido o PCB, mas que desde o governo Lula havia se “endireitado”.
Nas semanas anteriores vimos as fusões entre União Brasil (que já era uma fusão do DEM com o PSL) e o Progressistas (antigo PP) e entre o PSDB e o Podemos (uma junção de PHS e PSC, partidos ligados à Renovação Carismática Católica e à Igreja Assembleia de Deus), o que leva junto um partido que teve a cara da Nova República, com importantes conquistas, como o Plano Real, a estabilização da moeda e o controle da inflação, além das diversas reformas necessárias ao cumprimento da Constituição de 1988.
Podemos ainda lembrar do PEN, que virou PATRIOTA e que, junto com o PTB de Roberto Jefferson, é hoje um tal PRD.
Quem acompanha a análise política há bastante tempo sabe do quanto a opinião pública queixou-se, por décadas, do excesso de pragmatismo e da falta de programas orgânicos dos partidos, que os fizessem ser reconhecidos pelas agendas e bandeiras mobilizadas.
Dado o número exuberante de siglas que já tivemos (35), muitas delas existentes com o intuito claro de achegar-se aos quase infindos fundos partidário e eleitoral, várias foram as empreitadas para um seu enxugamento: da verticalização, na eleição de 2006, passando pela cláusula de barreiras, limitação de coligações até chegarmos à federação.
É essa tal federação que hoje permite a partidos de esquerda, como PT-PCdoB-PV e PSOL-REDE subsistirem no jogo político nacional.
Partidos políticos são instituições fundamentais à uma sociedade democrática. Eles representam e incorporam clivagens sociais as mais diversas. O que seria de nossa campanha abolicionista sem os Partidos Liberal e Conservador?
São eles máquinas que produzem grandes líderes, famosos oradores que incorporam ideias e ideais. Forjam demagogos, líderes que falam às massas democratizadas.
Estamos colhendo o que foi plantado por muito tempo: a ideia de que partidos são elementos danosos à democracia.
Um movimento significativo nesse sentido se deu quando, aos poucos, o nome “Partido” foi sendo retirado: o PMDB se transforma no MDB (como se ainda houvesse a necessidade de uma “mobilização democrática” pós-ditadura militar), o Partido da Frente Liberal se torna um Democratas, um Partido Popular Socialista se torna Cidadania e assim por diante. Que clivagem social algo como “Novo” representa? É fácil deduzir a partir de sua nomenclatura?
Uma gama ampliadíssima de nomes do pensamento políticos dedicaram parte de sua obra a pensá-los: Max Weber, Gramsci, Gaetano Mosca, Robert Michels, Angelo Panebianco, Maurice Duverger, Bernard Manin, Maria Victoria Benevides, Jorge Ferreira, Lucia Hippólito e tantos outros.
Pelo que se contabiliza, as novas fusões e federações farão com que o Brasil passe a ter 16 partidos. Isso não significará, por certo, uma maior coerência programática nas ações de nossas classes políticas. Talvez, o resultado seja nada mais, nada menos do que aquilo que, lá em 1914, Robert Michels apontou no seu clássico livro “Sociologia dos Partidos Políticos”: um processo maior de oligarquização dos partidos e, por consequência, da própria representação política. A democracia, assim, nos conferindo um maior processo de oligarquização das decisões, nas mãos de 16 super chefes, os presidentes partidários.
Então, com tanta federação e tantas fusões, que partidos teremos pós-eleição de 2026?
Sobrar-nos-á, como num tempo não muito distante, apenas o partido do governo e o da oposição?