A condenação dos golpistas – O dia depois do dilúvio; Por Ricardo Alcântara

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Em julgamento inédito, um ex-presidente e uma penca de generais, entre outros, foram condenados por tentativa de golpe (principalmente, mas não só) e irão passar a noite de natal presos, como convém à sua correspondente periculosidade.

No dia seguinte, as manchetes mundo afora celebravam o fato como uma demonstração de que, enfim, a democracia brasileira sobreviveu a um grande teste e, com isso, se consolida porque, no bem dizer de Nietzsche, “o que não nos mata, nos fortalece”.

O melhor de tudo: o dia seguinte no Brasil foi de plena normalidade. No mundo real da economia, o dólar caiu, a bolsa bateu recorde e foi anunciada para o ano em curso a maior safra agrícola da nossa história. Vida que segue, ora.

Nas ruas, a rotina seguia normal: as padarias lotadas às seis horas, os pontos de ônibus às sete e as fábricas às oito, pontualmente. Nenhuma vitrine quebrada. Nenhum monumento pichado, sequer com batom. Nenhum protocolo especial na polícia, nenhuma notícia vindo dos hospitais. Nada.

O quadro descrito – e é “descrição” porque se detém somente no que é fático – contrasta, a 180 graus de distância, em sentido oposto e excludente, ao apelo de cínica argumentação da extrema direita em sua luta terminal contra a metástase de contradições que lhe devora.

Cínica, sim, me atenho a justificar a expressão rude, porque a anistia que os bolsonaristas clamam se assenta sobre uma suposta necessidade de recuperar no país um ambiente de “pacificação”, como se a polarização política no país fosse uma alegoria da Faixa de Gaza. Não é. Nem como metáfora se presta: aqui, ao contrário, a lei impera.

Se o país a que os defensores da anistia ampla e irrestrita se referem é o Brasil das pessoas comuns e não a pátria de seus interesses, ele se mostrou inteiramente pacificado no dia seguinte à decisão histórica do Supremo Tribunal Federal. Não deu B.O. Lesão corporal zero. Se os derrotados não estão “pacificados”, que vão à missa. O povo está de boas.

A polarização política no Brasil, que a maioria destaca pelo que tem de proeminente – o crescimento dos polos – prefiro defini-la, em sua razão causal, pelo que nela se ausenta: um centro político articulado em torno de posições substantivas, de um liberalismo democrático, muito mais do que este que está aí, ajuntado sob apetites fisiológicos insaciáveis é uma compulsiva inclinação delituosa.

Não é, enfim, brindar com uma impunidade hedionda a aventura golpista que irá pacificar o ambiente político no Brasil. O que necessita? Uma postura mais cidadã dos detentores da riqueza do país na articulação de um projeto de desenvolvimento capaz de premiar quem se expõe ao risco de empreender e combater a pobreza como missão sua. Amor genuíno ao Brasil, sem a hipocrisia de patriotadas.

PS. Quando escrevi o parágrafo acima, me veio de pronto à memória, como personalização involuntária dessa ideia, a figura de um cearense e com seu nome encerro este artigo agradecendo a atenção de todos: Amarílio Macedo.

Ricardo Alcântara é escritor, publicitário, profissional do marketing político e articulista do Focus.

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