Há histórias que nascem da coragem de persistir. No sertão central do Ceará, debaixo do sol ardente, onde o tempo ensina a perseverar, Dina Pereira aprendeu a extrair do árido a beleza da resistência. Na terra quente, no chão duro da vida, floresce uma história que prova que, mesmo no solo mais árido, pode nascer uma força inabalável.
É assim que recomeça a história de Osvaldina Pereira da Silva, conhecida como Dina, criadora da marca Flor da Aurora e agora vencedora nacional do Prêmio Sebrae Mulher de Negócios (PSMN), na categoria Pequenos Negócios. Ela é a primeira mulher do Ceará a vencer a etapa nacional da premiação, um marco que simboliza a conquista do empreendedorismo feminino e das mulheres sertanejas.
“O Prêmio Sebrae Mulher de Negócios me fez enxergar que não é apenas sobre o mel. É sobre propósito, sobre liderança feminina, sobre inspirar outras mulheres e pequenos produtores a acreditarem que é possível chegar ao outro lado do mundo com um produto nascido no sertão”, comemora Dina Pereira, proprietária da Flor da Aurora.
Além de Dina, também venceram o PSMN as empreendedoras Ana Siqueira Calleri (RO), na categoria Produtora Rural; Vilena Ribeiro Silva (MA) – Ciência e Tecnologia; Lia Barros (PR) – Negócios Internacionais e Camila Policarpo (MA) – Microempreendedora Individual (MEI). As vencedoras das cinco categorias foram reveladas na noite desta quinta-feira (30), durante o Delas Summit, que aconteceu em Florianópolis. Suas histórias foram selecionadas entre as 5.308 inscritas nesta edição. Antes de chegar à etapa nacional, elas conquistaram, respectivamente, as etapas estaduais e regionais.
Uma história de superação e vitórias
Depois de passar por uma depressão pós-parto severa, que a afastou da fotografia, Dina viveu o que muitos chamariam de um ponto final. Mas assim como o sol que insiste em nascer no sertão, ela floresceu de novo e transformou o ponto final em vírgula para então continuar escrevendo os contornos da própria história.
Sem renda e com o marido enfrentando uma grave doença, Dina se viu diante da necessidade de recomeçar. Foi então que o mel, produto das colmeias que o marido cultivava desde 2007, se transformou em uma nova esperança. Ali, entre potes esquecidos no depósito e o desejo de não desistir, nasceu a ideia de um negócio que une natureza, ciência e a essência sertaneja.
Assim surgiu a Flor da Aurora, que deu seus primeiros passos ainda em 2020. A empresa de biotecnologia melífera transforma o mel da caatinga em cosméticos naturais e produtos alimentícios que unem tradição e inovação. A Flor da Aurora é uma homenagem à filha e é o símbolo de um novo amanhecer em sua vida. Um nome que resume a trajetória de uma mulher que, depois de atravessar os dias de tempestade, decidiu desabrochar.
Mas o caminho até aqui não foi nada simples. Sendo mulher e sertaneja, Dina ouviu muitas vezes que “não daria certo” e que “o sertão não era lugar para esse tipo de negócio”. Ainda assim, escolheu persistir. Estudou cosmetologia natural, marketing e agronegócio, se formou e aprimorou cada fórmula, cada rótulo, cada sonho. Com as próprias mãos, transformou sua casa em um laboratório e o quintal virou uma vitrine.
O resultado é uma marca que hoje desperta atenção dentro e fora do país. Os produtos da Flor da Aurora já chegaram a feiras internacionais em Portugal, Canadá e até Dubai. “A minha empresa nasceu da dor, mas também da vontade de mostrar que a mulher sertaneja pode tudo. Eu me descobri uma empreendedora realizada no momento em que percebi que a minha história de vida, de resiliência e superação, podia florescer junto com a história da Flor da Aurora”, afirma Dina.
E foi essa fé na vida e no trabalho que a colocou entre as cinco mulheres mais inspiradoras do Brasil no Prêmio Sebrae Mulher de Negócios. Uma conquista que simboliza não apenas o reconhecimento pessoal, mas o triunfo coletivo de todas as mulheres que transformam, todos os dias, as adversidades em aprendizado e os sonhos em realidade.
Hoje, quando o sol se levanta em Madalena e ilumina as colmeias que zumbem em harmonia, Dina sabe que cada abelha que voa leva um pouco da sua história.
E cada flor que desabrocha na caatinga é um lembrete de que o recomeço é possível para aqueles que não desistem antes da aurora.

A virada de vida que transformou o estúdio de fotografia em um laboratório natural
Antes de se tornar essa referência que é hoje no segmento do agronegócio, Dina vivia um outro tipo de brilho: o dos flashes. Fotógrafa talentosa, dedicou uma década a registrar sorrisos, histórias e momentos inesquecíveis. Mas foi o nascimento da filha que fez, de repente, tudo mudar. A depressão pós-parto a fez mergulhar em um ano de silêncio e solidão. E quando parecia que não havia mais saída, de uma outra aurora surgiu o desejo de recomeçar.
Quando tudo parecia claro, veio então a pandemia, trazendo isolamento e novos momentos de incerteza. Como se não bastasse o mundo em pausa, Dina se deparou ainda com o estado de saúde do marido, que foi diagnosticado com uma doença cardíaca rara.
Ao lado do companheiro durante todo o tratamento, ela passou a estudar diariamente dentro do hospital. Para garantir o sustento da família, vendia seus produtos ali mesmo pelos corredores. O que nasceu da necessidade tornou-se, então, uma vocação.
“O Sebrae foi decisivo nesse meu processo de mudança e em cada etapa da minha caminhada. Foi através das consultorias, das mentorias, dos programas e das capacitações que conquistei reconhecimento, espaço e coragem para inovar. Tudo o que alcancei, desde o desenvolvimento de novos produtos até a consolidação da marca, teve o Sebrae como parceiro essencial nessa escalada”, ressalta.
Com resiliência e curiosidade, Dina desenvolveu uma linha dupla de produtos que preserva o ecossistema local, protege as abelhas e valoriza a biodiversidade da caatinga. Mesmo ouvindo incansáveis vezes que “isso não daria certo”, Dina seguiu adiante e hoje suas conquistas ecoam como resposta a todos os “nãos” que ouviu pelo caminho e como inspiração para quem insiste em continuar.







