Relatório CNJ Geopresídios 2025 e o cenário crítico do sistema prisional do Ceará: 726 mil presos para 483 mil vagas

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A nova versão do Geopresídios, lançada pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), representa um salto histórico na governança penitenciária brasileira. O estudo foi divulgado na última quarta-feira, 27.

No Ceará, a realidade captada pelos relatórios de inspeção confirma a gravidade desse quadro nacional — mas também evidencia particularidades que merecem atenção imediata do Poder Público.

Com interface modernizada, filtros analíticos e dados georreferenciados, a plataforma transforma inspeções judiciais em evidências estruturadas para formulação de políticas públicas.

O painel nacional revela uma taxa de ocupação alarmante: 150,3%, com 726.149 pessoas privadas de liberdade para apenas 483.258 vagas.

Cenário do Ceará: superlotação e perfis vulneráveis identificados

A análise dos relatórios de inspeção das unidades do Ceará registrados no novo Cniep mostra que o Estado enfrenta pressão estrutural intensa, especialmente nas unidades de privação provisória e penitenciárias masculinas.

1. Superlotação persistente e índices críticos

As maiores unidades do estado apresentam números expressivos:

  • Casa de Privação Provisória de Liberdade Des. Adalberto Barros Leal (CPPL):
    Lotação de 1.823 pessoas na inspeção analisada .
  • Unidade Prisional de Ensino, Capacitação e Trabalho de Itaitinga:
    1.424 pessoas custodiadas, com 1.166 em regime fechado .
  • Unidade Prisional de Aquiraz:
    1.443 pessoas privadas de liberdade, sendo 672 em prisão preventiva — um número que reforça o desafio do encarceramento provisório no estado .
  • Casa de Privação Provisória Elias Alves da Silva:
    1.580 pessoas custodiadas, demonstrando ocupação robusta em módulo provisório .

Esse padrão mostra que o Ceará possui unidades com lotações superiores a 1.400 presos, pressionando infraestrutura, segurança e serviços essenciais.

2. As prisões preventivas puxam a superlotação

O Ceará reflete um padrão nacional crítico: altos índices de custodiados sem condenação definitiva.

Exemplos claros:

  • Aquiraz: 672 presos provisórios em apenas uma unidade .
  • Elias Alves da Silva: 798 presos provisórios .
  • Itaitinga: 31 provisórios, diante de 1.166 presos no fechado — indicando maior racionalidade, mas ainda pressão estrutural .

Essa assimetria reforça a percepção de que o volume de prisões preventivas ainda é um motor central da superlotação cearense.

3. Vulnerabilidades sociais e de saúde amplificadas

Os relatórios revelam a presença significativa de perfis que exigem políticas específicas:

  • Pessoas com transtorno mental ou deficiência psicossocial
    • CPPL: 168 pessoas com registro formal .
    • Aquiraz: 137 pessoas .
    • Itaitinga: 154 pessoas .
    • Instituto Penal Feminino (IPF): 186 mulheres com esse perfil — índice altíssimo e sensível .
  • Pessoas em isolamento por seguro (ameaçadas)
    • CPPL: 38 isolados por risco à vida .
    • Aquiraz: 30 pessoas .
    • Cepis: 22 pessoas .
  • População LGBTQIAPN+
    • IPF: 315 mulheres — número que demanda políticas de proteção e não discriminação .
    • Cepis: 236 pessoas — o maior índice masculino entre as inspeções avaliadas .

Esses achados confirmam que o Ceará possui contingentes significativos de pessoas em situação de alta vulnerabilidade, exigindo ações de saúde mental, segurança reforçada, segregação protetiva adequada e políticas antidiscriminatórias.

4. A realidade das mulheres privadas de liberdade no Ceará

O Instituto Penal Feminino Auri Moura Costa merece destaque:

  • 915 mulheres em lotação total .
  • 13 gestantes e 6 lactantes identificadas na inspeção.
  • 500 mães responsáveis por crianças ou pessoas com deficiência, indicando forte impacto na rede familiar.

Esses dados reforçam a urgência de políticas humanizadas e de atenção integral à saúde da mulher no sistema prisional.

Por que isso importa

  • O novo Geopresídios fornece ao Ceará um raio-x indispensável para reorientar políticas penais, alocar recursos e reduzir vulnerabilidades.
  • A superlotação, principalmente em unidades com mais de 1.400 pessoas, compromete segurança, saúde, ressocialização e o próprio controle institucional do Estado.
  • Os altos índices de presos provisórios reforçam a necessidade de revisão de fluxos processuais e medidas alternativas à prisão.
  • A presença significativa de pessoas com transtorno mental demanda articulação imediata entre sistema prisional, SUS e CAPS AD.
  • Os dados sensíveis de mulheres encarceradas indicam impacto intergeracional que não pode ser ignorado.

Vá mais fundo

  • O Ceará pode utilizar o novo Geopresídios para criar mapas de risco por unidade, correlacionando superlotação, vulnerabilidades e eventos críticos.
  • A metodologia da Resolução CNJ 593/2024 abre espaço para monitoramento contínuo e qualificado, permitindo que magistrados identifiquem rapidamente violações estruturais.
  • A presença de perfis vulneráveis sugere necessidade de protocolos específicos para saúde mental, diversidade e maternidade, alinhados a padrões internacionais.
  • O estado pode se antecipar ao ciclo de inspeções até 2026 e implantar planos de ação por unidade, com metas verificáveis.

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