Por Fábio Campos
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O surpreendente decreto assinado por Camilo Santana estabelecendo a retomada de algumas atividades produtivas, com recuo pouco tempo depois, sinaliza que o governador cedeu à pressão das circunstâncias de setores que tendem a gerar demissões em massa. A decisão de flexibilizar a quarentena foi uma polêmica, não explicada publicamente e tornada pública na frieza de um decreto.
Em conversa com o Focus, o secretário Maia Júnior, do Desenvolvimento Econômico, avalia que o governador fez bem em recuar. “Os empresários precisam entender que o primeiro colapso foi o de demanda pelos produtos. Não tem comprador para sapato, para roupas, para móveis ou outros produtos não essenciais no momento. Se não há demanda, não há receita”, disse o secretário. Portanto, voltar a produzir só elevaria os custos das indústrias e aumentaria os riscos de descontrole da pandemia no Ceará.
De fato, não é razoável que uma fábrica de sapatos retome a sua linha de produção se não há lojas para vender os produtos e também não há consumidor disposto a comprá-los. O mesmo vale para diversos outros setores que haviam sido elencados na determinação do governador. Daí a surpresa com o teor do decreto que durou apenas algumas horas.
Focus apurou que o secretário de Saúde, o Dr. Cabeto, também influenciou o governador para que recuasse da decisão. Nesse ponto, parece ficar claro que o decreto foi publicado no Diário Oficial sem que as autoridades da saúde fossem previamente ouvidas.
É bastante provável que a dura oposição do senador Tasso Jereissati ao decreto, ao qual denominou de “inoportuno e lamentável”, também influenciou para que o governador recuasse no propósito de flexibilizar a quarentena. O tucano colocou uma panela de batatas em brasa no colo do governador ao dizer que essa flexibilização iria fazer a quantidade de contaminações explodir no Ceará.
O fato é que, nas atuais circunstâncias, não há uma decisão certa ou errada, mas sim decisão que precisa ser adotada. No caso, o isolamento social. Portanto, o setor produtivo, o setor público e os cidadãos vão ter que trincar os dentes e encontrar uma forma de sobreviver até que as coisas fiquem mais claras. Não será tarefa fácil.