
A linhagem militar mais tradicional do Brasil atravessa Império, República, ditadura e democracia — e agora entra no centro da maior crise institucional desde 1964. E é formada por uma família cearense.
Por que importa
A família Theóphilo, uma das mais antigas e influentes linhagens militares do país, voltou ao centro do debate nacional após o STF absolver o general Estevam Cals Theóphilo no julgamento dos “kids pretos”, condenando todos os demais militares envolvidos na trama golpista de 2022.
A decisão, unânime, repercutiu como um terremoto nos bastidores do Exército.
1. Uma linhagem rara na história militar brasileira
A família Theóphilo surge ainda no período imperial, acompanhando a formação do Exército Brasileiro e mantendo, geração após geração, oficiais de alta patente — vários deles generais.
Os nomes mais proeminentes
- Tácito Theophilo — general, Ministro-Chefe do Estado-Maior das Forças Armadas no governo Geisel; escritor e historiador.
- Manoel Theophilo Gaspar de Oliveira — general, pai de Estevam e Guilherme; referência interna na formação de oficiais e pilar da tradição familiar.
- Guilherme Theophilo — general, ex-comandante militar da Amazônia e ex-comandante de logística; candidato ao governo do Ceará em 2018 pelo PSDB.
- Estevam Cals Theóphilo — general; ex-chefe do Comando de Operações Terrestres (Coter); apontado pela PF como articulador para o emprego do Comando de Operações Especiais na tentativa de golpe.

2. A tradição única no Exército: a barba dos Theóphilo
Por mais de 150 anos, a família manteve um privilégio singular dentro da hierarquia militar: era a única linhagem autorizada a manter oficiais com barba no Exército Brasileiro.
A permissão:
- nasceu no Império;
- atravessou sucessivos períodos políticos;
- consolidou-se como símbolo de identidade interna e prestígio familiar.
A tradição só se rompeu quando um dos herdeiros optou pela carreira musical, e não pela vida militar.
No meio militar, a barba dos Theóphilo virou um marco visual e cultural — um brasão vivo.
3. O caso Estevam: absolvição, pressão e poder
O STF condenou por unanimidade nove réus do núcleo “kids pretos”. Mas absolveu apenas um general: Estevam Cals Theóphilo.
O que pesou
- O voto de Alexandre de Moraes ocorreu um dia depois de reunião entre o ministro, o comandante do Exército, Tomás Paiva, e o ministro da Defesa, José Múcio.
- No encontro, pediram “dignidade” para os generais — palavra carregada de significado dentro dos códigos da caserna.
- Os ministros Cármen Lúcia, Cristiano Zanin e Flávio Dino acompanharam com rapidez incomum.
Por que a decisão repercutiu tanto
A absolvição:
- protegeu a cúpula militar;
- isolou as ações do núcleo operacional;
- reforçou a ideia, dentro do Exército, de que as responsabilidades não alcançam o topo da hierarquia sem prova material irrefutável.
4. O que a PF apontou sobre o general
Segundo as investigações, Estevam:
- teria discutido cenários de intervenção;
- seria responsável por acionar tropas de operações especiais;
- atuaria como elo entre comandos e núcleos do Exército.
A defesa negou todas as acusações.
O STF concluiu que não havia materialidade suficiente. A absolvição limpa sua ficha jurídica e mantém uma marca histórica da família dedicada ao Exército do Brasil.
5. O impacto dentro do Exército
A família Theóphilo sempre ocupou posição diferenciada na cultura institucional do Exército: tradição, prestígio e influência regional (sobretudo no Ceará).
Com a absolvição:
- a linhagem mantém intacta sua aura histórica;
- reforça sua autoridade simbólica;
- e preserva um lugar que poucos grupos familiares têm dentro das Forças armadas.
6. O que vem agora
Com a condenação dos demais oficiais, o caso abre novas perguntas:
- qual o limite da responsabilização militar?
- até onde vai a blindagem da alta patente?
- futuras denúncias podem atingir outros generais?
Para a família Theóphilo, o episódio representa um marco: uma tradição secular diante da crise democrática mais profunda do Brasil contemporâneo.







