
[Ou a “guerrilha democrática” do Plano Nacional de Cultura]
“A conquista do poder cultural é prévia à do poder político, e isso se consegue mediante a ação concertada dos intelectuais chamados orgânicos infiltrados em todos os meios de comunicação, expressão e universitários.”
— Antonio Gramsci
Goebbels descobriu como tocar as cordas do seu violon d’Ingres para criar o maior aparato de controle da opinião. Inventou, no caldeirão de seus laboratórios de indução político-ideológica, a mais perfeita e eficiente máquina de condicionamento da vontade e da opinião em um país notabilizado pelo elevado nível cultural de seu povo. De tão bem-sucedidas, suas estratégias de aliciamento influenciariam certamente as técnicas que fizeram de Trotsky e Gramsci engenhosos agentes da “revolução cultural” que grassou pelo Ocidente desde o entre-guerras (1914–18 a 1939–45).
No Brasil, esses fastos — e nefastos — fatos repercutiram, a reboque de eventos pressentidos, porém não anunciados. O Estado Novo ensinou-nos a “reconhecer” os limites da liberdade, a quebra de conceitos e preceitos que nos faziam crer vivermos, até então, em uma democracia. Os ideais de justiça social entraram no cardápio de um regime de exceção.
Mao Tsé-Tung colocou nas ruas as milícias de uma revolução “cultural” e fez do mandarinato milenar o esteio de uma nova China proletária, de partido único e guerreira, meio comunista e meio capitalista, mergulhada em um sincretismo econômico-político que a transformaria na potência que hoje conhecemos.
Na França, em Paris, Vincennes e Nanterre apregoavam a “proibição de proibir” e “la fin de l’université”. Berkeley despertaria a consciência adormecida da Califórnia. Maio de 1968 foi o lado romântico da “guerra cultural” que faria da universidade o pontão da conquista do poder no Ocidente europeu, na Ásia, no Oriente Próximo, Médio e Distante. A Comissão McCarthy sacudiria os Estados Unidos com a criação do “inimigo interno”, encarnado nas atividades antiamericanas do anticomunismo.
Na América Latina, Chile, Peru, Argentina e Brasil encontraram no castrismo cubano o “inimigo externo” de que careciam para celebrarem seus pendores democráticos. Em 1964, alguns brasileiros puseram-se a amar o Brasil; outros debandaram, segundo o estribilho de uma musiquinha patrioteira.
Academias e fontes de fomento, abertas em abraço milionário, revisaram provimentos e proventos a serem dispensados ao que indistintamente passou a ser cognominado de “Cultura”.
No Brasil, essa área ganhou fôlego renovado. Não causa estranheza que muitos dedicados cidadãos e cidadãs tenham sido agraciados pelos serviços relevantes prestados à educação nacional.







