O dólar à vista encerrou a sessão desta sexta-feira, 6, em alta moderada e voltou a se aproximar de R$ 5,60, acompanhando a onda de valorização da moeda norte-americana no exterior. O dia foi marcado por grande instabilidade nos mercados globais em meio ao vaivém das apostas para o corte inicial de juros nos EUA, após a divulgação do relatório mensal de emprego (payroll) americano em agosto.
Pela manhã, a leitura do payroll trouxe criação de 142 mil vagas, abaixo da mediana de Projeções Broadcast (165 mil). Foram revisados para baixo também os números de julho (de 114 mil para 89 mil) e junho (de 179 mil para 118 mil). De outro lado, houve ligeira queda da taxa de desemprego (de 4,3% para 4,2%) e crescimento acima do esperado do salário por hora.
Em um primeiro momento, o dólar recuou e tocou mínima a R$ 5,5304. A maré virou ainda pela manhã, com o mergulho das bolsas em Nova York e o aumento da aversão ao risco diante das incertezas sobre o ritmo de corte de juros nos EUA e a magnitude total do alívio monetário. Há temores de desaceleração mais aguda da economia americana dada a safra mais recente de indicadores.
A moeda norte-americana ganhou força na comparação como divisas fortes e emergentes. Uma das raras exceções foi o iene japonês, que subiu mais de 0,70% em relação ao dólar. A valorização da moeda japonesa tende a levar a um desmonte de operações de carry trade com divisas de países de juros altos, como o real e o peso mexicano.
Com máxima a R$ 5,6015 à tarde, o dólar à vista terminou o pregão cotado a R$ 5,5901, em alta de 0,34%.
Apesar do avanço nesta sexta-feira, a moeda encerra a semana, que corresponde aos cinco primeiros pregões de setembro, em baixa de 0,80%. No ano, acumula valorização de 15,18% em relação ao real, que tem desempenho superior apenas ao do peso mexicano em 2024, considerando as moedas mais relevantes.
O economista-chefe da Azimut Brasil Wealth Management, Gino Olivares, observa que o payroll não parece sugerir, isoladamente, que o mercado de trabalho está prestes a passar por uma correção significativa. Mas o conjunto recente de indicadores norte-americanos, como o relatório ADP, índices de gerentes de compras e o Livro Bege do Fed, levam a conclusão de que o mercado de trabalho está desacelerando, o que aumenta as chances de um “acidente de percurso” na economia americana.
“As recessões são definidas basicamente pela virada no mercado de trabalho. E essas viradas são sempre muito difíceis de identificar. Não é por outro motivo que os pousos suaves são tão raros”, afirma Olivares, recordando que o presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, ressaltou em seu discurso no Simpósio de Jackson Hole que não aceitaria uma deterioração adicional do mercado de trabalho.
Logo após a divulgação do payroll, ferramenta de monitoramento do CME Group mostrou que houve um aumento da aposta em corte mais agressivo dos juros neste mês, com chances de redução de 50 pontos-base passando de pouco mais de 43% para 50%. Já no fim da manhã, contudo, a possibilidade de corte de 25 pontos passava a ser majoritária, superando 60%. Ao longo da tarde, chegou a atingir 75%.
O diretor do Fed Christopher Waller disse que o mercado de trabalho se enfraquece, mas não mostra sinais de deterioração. “O relatório de emprego é consistente com crescimento moderado da atividade econômica”, afirmou Waller, ressaltando que, caso haja uma piora, o BC americano pode agir de forma rápida e enérgica.
Pela manhã, o presidente do Fed de Nova York, John Willians, disse que o mercado de trabalho está mais bem equilibrando. Ele afirmou que a economia continua a crescer e que o corte de juros “é o próximo passo natural” do BC americano.
Em que pese o vaivém das expectativas para o movimento inicial do Fed, o economista-chefe do Banco Pine, Cristiano Oliveira, observa que as expectativas de redução dos juros em 12 meses chegaram a superar nesta sexta 200 pontos-base. Para ele, o mercado sinaliza que o Fed está “atrás da curva” e terá que cortar os juros de forma agressiva para cumprir seu duplo mandato: inflação na meta com pleno emprego.
“Em geral, para mercados emergentes como o Brasil, a queda da taxa de juros nos EUA é notícia positiva, principalmente se o Fed for hábil em evitar a recessão”, afirma Oliveira.
Agência Estado