
Tema político mais comentado na mídia durante a última semana, a inquietação que o fato gerou já é revelador de tudo que direi a seguir sobre a indicação de Gleisi Hoffmann para a pasta de articulação do governo federal com o parlamento.
A inquietação se justifica: a escolha da atual presidente do PT, por suas posições mais à esquerda em assuntos econômicos e o traço mais combativo de seu discurso, contraria a expectativa de que Lula optaria por uma moldura mais moderada no ideário e mais conciliadora no estilo.
Para justificar a escolha, duas versões entraram em circulação.
A primeira, mais óbvia e literal, indicaria que o presidente fez, diante da sua queda súbita de aprovação, uma opção de se fortalecer em seu reduto. Isto é, se daria a reforçar suas defesas no eleitorado mais fiel e estancar a sangria de popularidade e perda de carisma.
A outra, mais oblíqua e maquiavélica, apontaria apenas um esforço de recuperação de autonomia simbólica diante das pressões dos aliados de centro sem, contudo, se materializar, de fato, numa guinada de isolamento à esquerda na segunda metade de seu governo.
Há certo sentido no clichê em circulação que define o desejo de ficar de bem com todo mundo como uma rota para o fracasso. E o risco maior que Lula corre é insistir numa conciliação que contemple a todos e não conquiste a gratidão de ninguém. Bom exemplo disso são as medidas de ajuste fiscal do ministro Haddad: nem o mercado, e muito menos a base de apoio social do governo, se declaram bem atendidos em suas expectativas.
O imperativo de conciliar interesses muito amplos e visões muito diversas do que seria necessário fazer provoca uma percepção geral de paralisia, como se o governo estivesse sempre dois passos atrás da linha de prontidão. Preso aos ditames da governabilidade, Lula 3.0 passa essa sensação de que já não é barro, mas ainda não é tijolo.
A agravar ainda mais esses sentimentos que se mobilizam, o estado de nervo exposto que sempre decorre de um quadro de carestia. O descontrole de preços faz uma luz vermelha piscar na mente do assalariado: o medo de sobrar uma semana no fim do salário do mês e dez dias no mês seguinte.
Tudo isso dá uma boa medida do quanto de habilidade será exigido de quem o presidente escolheu para lidar com o elevado custo que o país paga para viver como sociedade democrática: um congresso nacional desqualificado.
