
O fato: O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fez nesta segunda-feira (12) seu mais contundente discurso sobre geopolítica internacional desde que retornou ao Palácio do Planalto. Em evento com empresários na capital chinesa, o petista afirmou que a aliança entre Brasil e China é “indestrutível” e que, sob sua liderança, os dois países caminham para uma relação sem volta. A declaração ocorre no momento em que Pequim e Washington buscam aliviar tensões comerciais herdadas da gestão Trump — mas Lula evitou endossar o acordo e preferiu manter o tom crítico ao ex-presidente americano.
Parceria entre Brasil e China: “Se depender do meu governo, Brasil e China serão parceiros incontornáveis”, disse Lula. “Nós dois juntos poderemos fazer com que o Sul Global seja respeitado no mundo como nunca foi.” O presidente defendeu o aprofundamento de laços econômicos e tecnológicos com os chineses, indicando que a relação vai além das exportações de commodities: “Os produtos do agronegócio brasileiro também têm tecnologia agregada. E não devemos nos sentir inferiores por isso.”
A presença de Lula em Pequim reativa a política de aproximação com o Oriente iniciada em seus mandatos anteriores e reafirma a opção por uma diplomacia multipolar. Desde 2009, a China é o maior parceiro comercial do Brasil — superando os Estados Unidos. Apenas no seminário empresarial Brasil-China, a expectativa de novos negócios e investimentos chegou a R$ 27 bilhões, segundo a Apex Brasil.
Estabilidade Internacional e EUA: O presidente foi além da pauta comercial e posicionou o Brasil como defensor de uma nova governança global. Rejeitou o protecionismo, defendeu o multilateralismo e responsabilizou ações unilaterais dos EUA, como as tarifas de Trump, por ameaçarem a estabilidade internacional. “Não existe saída para um país sozinho”, afirmou. “O protecionismo pode levar à guerra.”
Sem citar diretamente os EUA, Lula criticou potências ocidentais por abandonarem investimentos em regiões como África e América Latina. E elogiou o papel da China como parceira estratégica. “A China está se comportando como exemplo de país que tenta fazer negócio com os que foram esquecidos nos últimos 30 anos”, disse. O recado, apesar de diplomático, tem destinatário claro.
Detalhes: Na tentativa de rebater críticas sobre a natureza da pauta exportadora brasileira, Lula reconheceu limitações históricas: “Durante anos, o Brasil não investiu em educação e formação de talentos. Por isso não consegue competir com produtos de alto valor agregado.” Mas enfatizou que a relação com a China também deve incluir transferência de tecnologia, conhecimento e intercâmbios educacionais. “Xi Jinping tem demonstrado confiança no Brasil”, declarou.
Em tom otimista, Lula afirmou que o país está prestes a se tornar “imbatível na transição energética” e ofereceu oportunidades em setores estratégicos como Saúde, Defesa e Educação. A visita à China, mais do que um gesto simbólico, representa um reposicionamento claro do Brasil no xadrez global — e sinaliza que, na visão do governo, o futuro não passa por Washington, mas por Pequim.