A Promotoria de Justiça de Bela Cruz, no interior do Ceará, lançou um alerta institucional com peso de urgência: a Central Municipal de Resíduos Sólidos da cidade — operada em parceria com o Consórcio Público de Manejo dos Resíduos Sólidos da Região Litoral Norte (CPMRS-RLN) — deve suspender imediatamente seu funcionamento até que o problema de emissão contínua de mau cheiro seja resolvido.
A recomendação, emitida pelo Ministério Público do Estado do Ceará (MPCE) na última quinta-feira (31/07), decorre de relatos alarmantes dos moradores do bairro Chapadinha, onde a rotina foi completamente tomada por um odor nauseante, persistente e agressivo. Segundo os relatos, janelas precisam permanecer fechadas mesmo em dias quentes, atividades ao ar livre se tornaram inviáveis e há dificuldade até para permanecer dentro de casa em certos períodos.
“Estamos presos dentro de nossas próprias casas. Ninguém aguenta mais esse cheiro. Não temos mais dignidade”, desabafa uma moradora em denúncia recebida pela Promotoria.
A situação foi confirmada por inspeção presencial realizada pelo promotor de Justiça Diego Leal no dia 25 de julho de 2025. O relatório aponta que a poluição atmosférica gerada pela Central configura dano ambiental e ofensa direta à saúde pública e ao bem-estar coletivo — configurando violação de direitos constitucionais.
MP quer mais do que a suspensão: cobra plano técnico, reparação social e responsabilidade
O MPCE não apenas recomendou a paralisação imediata. O órgão exige, em documento oficial, que a Prefeitura de Bela Cruz e o consórcio responsável apresentem um plano técnico completo, com:
🔴 Identificação precisa das fontes do mau cheiro;
🔴 Soluções técnicas eficazes e viáveis para contenção dos odores;
🔴 Sistema de monitoramento contínuo da qualidade do ar, com dados acessíveis à população;
🔴 Plano de gestão de odores, incluindo protocolos de operação, manutenção e fiscalização;
🔴 Medidas ambientais e sociais reparatórias para os danos já causados aos moradores da região;
🔴 Ações administrativas concretas para evitar reincidência da crise.
Além disso, o MPCE deixou claro: o descumprimento da recomendação poderá acarretar responsabilizações civis, penais e administrativas. O caso pode se transformar em ação civil pública por danos morais coletivos, com reflexos para o município e para os gestores envolvidos.
O episódio em Bela Cruz revela um dos dilemas silenciosos da política ambiental no interior do Brasil: a má gestão dos resíduos sólidos aliada à negligência com a qualidade de vida das populações mais vulneráveis. O lixo que deveria ser tratado com tecnologia e responsabilidade ambiental acaba se tornando um símbolo de descaso público.
Ao mover a recomendação, o MPCE reafirma seu papel como fiscal dos direitos difusos, lembrando que a Constituição Federal garante o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado e à saúde pública como fundamentos do bem-estar.