
Há um ponto em que a Justiça deixa de ser uma instituição e se torna uma ideia. Nesse instante, o que está em jogo não é apenas o cumprimento de leis, mas a confiança moral que a sociedade deposita em seus guardiões. Uma Suprema Corte existe para sustentar essa confiança, para assegurar que a Constituição não seja um ornamento retórico, e sim o pacto vivo que protege cada cidadão.
Quando seus ministros se afastam da transparência, o brilho do direito se apaga sob o véu das conveniências. A moral pública, que deveria ser o alicerce das decisões, dissolve-se em zonas cinzentas onde poder e privilégio se misturam. A ética, que é a alma da Justiça, não se mede por sentenças, mas pelo exemplo. Uma viagem, um favor, um gesto ambíguo — tudo o que poderia parecer banal ganha dimensão simbólica quando parte de quem julga.
A democracia se enfraquece não apenas pelos excessos dos tiranos, mas pelas omissões de seus guardiões. Quando o sigilo se torna regra e a exposição de fatos públicos é tratada como afronta, o que se ergue não é a Justiça, mas um muro entre ela e o povo. A toga, que deveria proteger a verdade, transforma-se em manto de sombra.
O verdadeiro juiz é aquele que entende que o poder de julgar é um ato de serviço, não de soberania. Ele se submete à mesma lei que aplica e responde ao mesmo crivo que impõe. Uma Suprema Corte só é suprema quando reconhece que não está acima da nação, mas a serviço dela.
O que desmoraliza a Justiça não é a crítica; é o silêncio cúmplice. É o medo de dizer que algo está errado quando a razão grita que está. Sem ética, não há jurisprudência capaz de sustentar uma democracia. Sem moral, não há Constituição que resista ao tempo.
Talvez o maior desafio do nosso tempo não seja escrever novas leis, mas lembrar o espírito que deu origem a todas: a verdade, a equidade e a coragem de não se dobrar ao poder. Quando essas virtudes se calam, o direito vira ritual e a Justiça, apenas aparência.
É hora de reerguer a confiança, de devolver à toga o peso simbólico que ela perdeu e de recordar que nenhuma instituição é maior que o princípio que a criou: servir ao povo com retidão e clareza. Essa é — e sempre será — a verdadeira face da Justiça.







