Os quatro desafios de Evandro Leitão; Por Ricardo Alcântara

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Ricardo Alcântara
Especial para o Focus

Ex-secretário de Estado e presidente da Assembleia Legislativa, o talento político de Evandro Leitão ainda não recebeu um desafio com a envergadura que em 2024 pretende enfrentar: representar os poderes federal e estadual, de centro esquerda, na disputa pela prefeitura da quarta maior população urbana brasileira, Fortaleza.

Reza a mitologia que o grego Hércules teve de vencer dez desafios para obter a graça. Para bem cumprir a missão que Camilo Santana pretende lhe entregar, Evandro terá menos trabalho que o filho de Zeus: serão quatro, mas igualmente árduos, os desafios a vencer. Nenhum deles é fácil.

O primeiro deve ter seu desfecho em menos de sete semanas: receber ou não a indicação do PT como candidato. Para isso, terá que vencer, como noviço no mosteiro, uma batalha interna contra a veterana Luizianne Lins e outros três petistas, todos de papel passado.

Pode vencer? Pode, desde que consiga evitar que o processo de escolha se transfira para o leito turbulento das prévias, quando a decisão é toda transferida para a base militante e um imprevisível eleitor, o Sobrenatural de Almeida, costuma comparecer às urnas.

Mesmo que consiga, resta uma dúvida: ganha, mas leva? Ninguém ouse imaginar que, numa disputa difícil como a que se prenuncia em Fortaleza, um candidato do PT possa, como oposição, vencer sem a participação de sua base de militantes e simpatizantes, seja na guerrilha digital do Whatsapp ou presencial, com a ocupação espontânea das ruas. Não ganha. Só com o apoio da burocracia e gente paga balançando tediosamente bandeiras nos semáforos não chega lá.

E aí começaria o segundo desafio de Evandro: conquistar o coração e a mente da militância. Com destreza e sem artificialismos, se pintar de vermelho para a guerra num mimetismo perfeito com a o discurso combativo que os eleitores urbanos de Lula têm como senha para a ocupação dos espaços. Não bastará ter a mão de Lula num ombro e a de Camilo no outro. Evandro teria também que demonstrar desenvoltura e magnetismo próprio porque essa não será, definitivamente, eleição para poste.

Outra dificuldade emerge com o fogo amigo, soprado a partir do aliado PSB

por Cid Gomes em seu retorno à mesa de negociação, onde contesta a suposta prerrogativa do PT em indicar o candidato a prefeito e defende o nome de alguém filiado a um partido aliado – talvez ele mesmo, Cid, o que, por sua expressão política, forçaria nova distribuição de cartas, excluindo do jogo os nomes postos até o momento.

Tudo isso, porém, é para Evandro, apesar do esforço acumulado que exigirá, somente os pressupostos de confirmação da provável candidatura. As duas etapas da eleição propriamente dita – entre agosto e outubro – representam um desafio ainda maior porque há, no meio do caminho, não somente uma, como lamentava o poeta mineiro, mas duas pedras: um prefeito em processo de recuperação de imagem, José Sarto, e uma liderança resiliente, Capitão Wagner, de larga popularidade entre os assalariados para os quais fala o lulismo.

Se bem sucedido, o desembarque no segundo turno representa outra empreitada hercúlea: a provável aglutinação das outras forças contra ele, Evandro, é dado nas avaliações em geral como fato consumado porque o adversário político a ser abatido pelo centro e pela direita – aquele que tem tatuado na testa o alvo a ser atingido – é justamente o principal patrono de Evandro, Camilo Santana, hoje a maior liderança política do Ceará. Como todos sabem, em 2024 se jogará a partida de ida para a final de 2026, na sucessão de Elmano de Freitas.

A quem tem pela frente, como Evandro Leitão, essa bateria de testes só se pode desejar boa sorte. E a força de um Hércules.

Ricardo Alcântara é escritor, publicitário, profissional do marketing político e articulista do Focus.

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