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O Governo Federal tem se enrolado ao tratar da exploração de petróleo na chamada Margem Equatorial. Ao adotar esse termo amplo, o discurso oficial tem arrastado estados do Nordeste para o centro de uma polêmica que, na verdade, diz respeito à sensível região amazônica, especialmente à foz do rio Amazonas, no Amapá e no Pará.
Esse erro conceitual é grave. Prejudica os estados nordestinos, como o Ceará, que passam a ser vistos como parte de um embate ambiental que não lhes cabe. E pior: nossa representação política tem assistido a tudo calada.
Os fatos:
- O próximo leilão da ANP, marcado para 17 de junho, ofertará 332 blocos exploratórios no Brasil, dos quais 65 na Margem Equatorial.
- Desses, 47 blocos estão na foz do Amazonas, epicentro da polêmica.
- Outros 17 blocos ficam na Bacia Potiguar, que pega um terço do litoral do Ceará. Os outros dois terços estão na denominada Bacia do Ceará (veja na imagem).
Apesar da diferença geográfica e ambiental evidente, o discurso oficial tem jogado tudo no mesmo balaio: Margem Equatorial.
Por que importa: A insistência em tratar o Nordeste como parte dessa crise afeta a imagem e o potencial de investimento dos estados da região, como o Ceará, que busca atrair projetos energéticos e industriais sustentáveis. Ao vincular o litoral cearense à sensível questão amazônica, o governo gera ruído e incerteza.
Silêncio ensurdecedor: Enquanto isso, nossa representação política permanece em completo silêncio. Para citar quem mais importa:
- O governador Elmano de Freitas não se posicionou.
- O ministro da Educação, Camilo Santana não se manifestou.
- O senador Cid Gomes não se manifestou.
- O líder do Governo na Câmara, José Guimarães, não levantou o tema.
- Ao que se sabe, a bancada federal do Ceará e do Nordeste permanec calada.
Esse vácuo de liderança é perigoso. O Ceará precisa deixar claro que não deve ser confundido com os territórios sob pressão ambiental na Amazônia. A exploração offshore no estado deve ser debatida com transparência e segurança, respeitando as especificidades locais e garantindo que o potencial energético do litoral cearense não seja soterrado por um debate que não nos pertence.
Entrelinhas: A rede de entidades ambientalistas Observatório do Clima (OC) avalia haver uma “ofensiva” do governo federal contra o Ibama após a eleição do senador amapaense Davi Alcolumbre (União) para a presidência da Casa. O posicionamento ocorre após o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) criticar o que chamou de “lenga-lenga” do instituto pela falta de autorização para explorar petróleo na Foz do Amazonas.
É hora de falar. O silêncio é cúmplice.