Equipe Focus
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O pediatra, toxicologista e professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo Anthony Wong morreu, em 15 de janeiro deste ano, em São Paulo, após sofrer uma parada cardiorrespiratória. Aos 73 anos, ele estava internado no Hospital Sancta Maggiore, da rede Prevent Senior, desde dezembro de 2020. Em nota, a família informou que ele foi hospitalizado com queda de pressão e mal-estar e diagnosticado com úlcera gástrica e hemorragia digestiva.
O que nem a família nem o prontuário médico de mais de 2.000 páginas ou o atestado de óbito informam é que Wong foi internado com sintomas de COVID-19 – tendo, inclusive, tido resultado positivo para Sars-CoV-2 durante o período em que esteve no Sancta Maggiore. A morte do médico em decorrência de reinfecção pelo coronavírus foi ocultada por 123 profissionais da rede Prevent Senior, segundo reportagem da revista Piauí. Conduta semelhante foi adotada na declaração de óbito da mãe do empresário Luciano Hang, Regina Hang.
O texto, que descreve todo o tratamento recebido por Wong até sua morte, foi publicado na véspera do depoimento do diretor-executivo da Prevent Senior, Pedro Batista Jr., à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid, nesta quarta-feira, 22. Aos senadores, ele negou que a operadora tenha cometido qualquer irregularidade e afirmou que não responderia a perguntas sobre seus pacientes.
Gabinete paralelo
Especialista renomado, com quase 50 anos de carreira, Wong se envolveu em polêmicas durante a pandemia ao lado de nomes como a imunologista e oncologista Nise Yamaguchi e o virologista Paolo Zanotto por defender o uso de hidroxicloroquina para covid – medicamento que já se mostrou ineficaz contra a doença e contra-indicado pela Organização Mundial de Saúde – e criticar o isolamento social. Ele também propagou informações falsas sobre vacinas.
Durante os quase dois meses em que passou internado, Wong foi tratado com o chamado kit covid (hidroxicloroquina, azitromicina e ivermectina) e outras intervenções experimentais, como a ozonioterapia retal, tratamento que até mesmo o Ministério da Saúde desaconselha. De acordo com a reportagem da Piauí, foram mais de 20 sessões. Segundo o prontuário médico, Wong autorizou ser medicado com o “kit covid”.
Diferentemente dele, que optou pelo tratamento sem eficácia, reportagem da GloboNews divulgada no último dia 16, revelou por meio de áudios e mensagens de gestores da Prevent Senior, que havia a indicação de adoção do tratamento precoce em pacientes com COVID sem que nada fosse dito aos familiares ou aos próprios enfermos. A reportagem também mostrou que a Prevent Senior conduzia uma pesquisa sobre a eficácia da hidroxicloroquina omitindo os dados dos pacientes que morriam durante o tratamento
No hospital, o médico precisou ser entubado, desenvolveu insuficiência renal e foi submetido a um procedimento de traqueostomia. Antes de morrer, Wong ainda sofreu uma pneumonia bacteriana e um choque séptico após a infecção se espalhar pelo seu corpo.
Como o atestado de óbito de Wong ocultou a informação de que ele teve coronavírus, como orientam as secretarias de Saúde dos Estados, inclusive a de São Paulo, ele foi velado sem as restrições previstas no protocolo determinado às vítimas da covid-19, que ordena, por exemplo, que o caixão fique fechado.
Procurada pela Piauí, a Prevent Senior disse que não comentaria casos específicos de pacientes sem autorização da família. Carla, viúva de Wong, enviou a seguinte nota à reportagem: “A família informa que não tem poder para alterar nenhuma informação no atestado de óbito e vê com incredulidade a invasão do prontuário. Informa ainda que não existe nada a ser dito e pede que respeite o nome do doutor Anthony Wong”.
Com Agência Estado