Sangue ao entardecer; Por Walter Pinto Filho

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Quando a maldade se manifesta, a lei deve responder com toda sua força — e sem hesitar.

Três mulheres saíram para um passeio na praia, levando um cachorro de estimação. Tinham o mar e a brisa do final da tarde como companhia. Não voltaram mais. Uma mãe, sua filha e uma amiga foram arrancadas da vida em Ilhéus — não pela força da natureza, mas pela mão de um homem que fez da perversidade sua marca.

O nome da fera é Thierry Lima da Silva, 23 anos. Um andarilho, viciado em drogas, com ficha criminal. Desde a adolescência, era um animal violento. Preso por tráfico, confessou na audiência de custódia ter matado as três mulheres. E não só isso: admitiu também ter espancado o próprio companheiro, numa briga por ciúmes — ele morreu 14 dias depois no hospital. Um sujeito sem freio moral.

Na sessão, Thierry descreveu como arrastou uma das vítimas pelo braço e a golpeou com faca. As outras duas tentaram impedir e foram atacadas. O padrão dos golpes indica que possivelmente agiu sozinho. Tudo isso enquanto, nas proximidades, havia festa e jogo de futebol. O mal caminhou na praia, e a cidade seguiu distraída.

O cachorro foi deixado amarrado a um coqueiro, ao lado dos corpos esfaqueados. Ninguém ouviu latidos, ninguém percebeu nada. Os corpos só foram encontrados no dia seguinte — e pela fotografia aérea, não se trata de uma grande área de vegetação. As investigações precisam ir mais fundo: talvez haja algo além da versão confessa, uma cena ainda mais macabra a ser desvendada.

Thierry é um degenerado que não se redime nem se transforma — mantê-lo preso é desperdiçar recursos públicos. Provada a culpa, é um demônio que deveria ser abatido legalmente pelo Estado. Mas, no Brasil, a lei ainda se recusa a permitir essa resposta.

E a pergunta se impõe: como alguém com esse perfil circulava livremente, até colecionar cadáveres no currículo? O sistema penal falha quando deixa criminosos soltos. Erra também porque insiste em punições brandas, que não intimidam nem corrigem.

Não à toa, a Bahia amarga números de guerra. Em 2024, foram 6.036 Mortes Violentas Intencionais — taxa de 40,6 por 100 mil habitantes, quase o dobro da média nacional. Entre as cidades mais violentas do Brasil estão Jequié, Juazeiro, Camaçari, Simões Filho e Feira de Santana — todas baianas. O Ceará não está distante dessa realidade sangrenta. São territórios sitiados por facções, milícias e quadrilhas que transformaram a vida em pesadelo e o turismo em propaganda enganosa. Marketing não estanca o sangue nas ruas.

Depois do inominável crime, ele diz ter queimado a bermuda manchada de sangue e dormido tranquilamente em uma praça. A noite não o atormentou — e a falta de uma política criminal implacável permitirá que outros ainda piores nasçam.

O pensador irlandês C.S. Lewis discorreu sobre o poder da maldade quando ela se esconde sob a máscara da normalidade. O caso de Ilhéus é prova viva dessa advertência. O mal já não se oculta: sangra mulheres e anda livremente à luz do crepúsculo.

Walter Pinto Filho é Promotor de Justiça em Fortaleza, autor dos livros CINEMA – A Lâmina que Corta e O Caso Cesare Battisti – A Confissão do Terrorista. www.filmesparasempre.com.br

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