
Escrevo esse texto aqui de Accra, capital de Gana, costa oeste da África. Já faz alguns dias que estou aqui e essa atmosfera tem me feito pensar sobre sociedade, cultura, cor e representatividade.
O primeiro impacto que tive ao sair do aeroporto, pegar um Uber e circular pelas ruas, foi o de ver toda a publicidade, outdoors, grafits e propagandas com pessoas negras. Ou pretas, como quiser. Você pode dizer: “É obvio, você está na África”.
A questão é que nunca tinha visto isso antes. Lembro que até na Ásia, e tantos outros lugares fora da Europa que estive, usam-se massivamente modelos brancos ocidentais. E ainda não vi sequer um aqui até agora. E que bom! Pontos pra Gana.
Em nosso País, assim como no restante da América Latina multiétnica, geralmente se faz um esforço enorme para exaltar as origens europeias e esconder ou omitir as africanas. Sempre que viajo ao “sul do mundo” me vem a reflexão sobre o quanto o poder econômico, publicitário e midiático nas mãos majoritariamente de brancos do norte, tem colonizado as mentes e o subconsciente das pessoas mundo afora, criando hierarquias, estigmas, reforçando o racismo estrutural e preconceitos que são reproduzidos cotidianamente em nossas sociedades.
Aqui nesse contexto, contudo, me parece claro e cristalizado que o questionamento dessa construção de um padrão de beleza, bem estar e superioridade – que tem raça, cor e origem étnica – é um grande elemento de dominação. Pra não dizer uma grande violência. Que afeta as relações sociais, interpessoais, e invade e penetra a esfera institucional e política.
A cultura é uma evidente ferramenta geopolítica. E em um país tão diverso e plural como o nosso, e que deve à África boa parte de sua construção cultural e demográfica, me parece fundamental assumir, exaltar e se orgulhar das raízes africanas o mais rápido possível. Sem isso, simplesmente não consigo pensar em um Brasil melhor.