Por Imaculada Gordiano
Século 21. Navegamos na Era Digital, no entanto, a motivação do jovem estudante para a formação jurídica, na maioria dos casos, ainda carrega o peso da âncora dos negócios de família, em outros, o do status da profissão, inclusive já se pensando em carreiras jurídicas para as quais há a exigência da formação e do exercício profissional como bacharel em direito, e só ocasionalmente, por vocação.
Ao longo da minha experiência na profissão, aprendi que a decisão pela militância na carreira jurídica, como advogada ou advogado, requer acima de tudo vocação e muito fôlego empreendedor para construir uma carreira sólida. Aprendi também, às duras penas, que não é um processo linear, se dá dentro de um processo com muitas ondas, altas e baixas, e muitas vezes em marés bem baixas, dada a dificuldade que se tem hoje de se fixar em terra firme a advocacia como negócio. Acredito que os obstáculos que se interpõem para esse fim são resultantes, principalmente, de como se desenvolve a visão do formando. Ele é preparado para ir até o limite do advogar, mas não para enxergar novos horizontes com a gestão da sua carreira; não é instigado a ir além, a ter a visão da advocacia como negócio; aprender, já na universidade, que a advocacia não se limita apenas a trabalhar com processos, a fazer petições iniciais, a fazer defesas, a fazer instruções em audiências ou a fazer recursos.
A advocacia é muito mais do que isso. Aquelas lições tomadas nos bancos da universidade estão para o papel da advocacia que chamo de reativa. A verdadeira advocacia começa dentro de um papel institucional, dentro de um papel preventivo, proativo; e somente lá, no quarto pilar, o do reativo, que é para onde, muitas vezes, lamentavelmente, toda nossa formação acadêmica deságua. E aí, se somos jogados para fora do navio sem os equipamentos e recursos adequados, estamos sujeitos aos tubarões do oceano do mercado de trabalho. Se sobrevivemos a esta realidade, seja trabalhando para terceiros, seja até mesmo montando nosso próprio escritório, a gente sente essa dificuldade na gestão da nossa carreira, na gestão do nosso negócio, engolimos muita água até botar a cabeça fora d’água. Vale lembrar que o escritório de advocacia, como qualquer outra empresa, é uma atividade que, dentro do conceito do Código Civil Brasileiro, se configura como uma sociedade de cunho empresário, apesar de o seu registro acontecer por lei especial na OAB.
Digo que, para superar essas dificuldades, precisamos de muita força no braço para remar em direção à praia. Particularmente, passei por essas dificuldades, mas percebo que, lá longe, vem se formando uma nova onda. Há um novo perfil do jovem profissional da área, na vontade com que ele busca em suas postagens a respeito dessa questão: da governança corporativa da sua carreira jurídica. Com o advento das novas tecnologias, os horizontes se abriram naturalmente para ele. No entanto, falta-lhe a âncora de nosso porto seguro: a OAB. Penso que, assim como a obrigação da universidade de alargar o horizonte do formando rumo a todas as possibilidades para sua profissão, a Ordem deve efetivamente ancorar o advogado iniciante. Então caberia a ela orientar o jovem advogado para que desenvolva sua carreira jurídica, uma vez que a universidade não lhe dá essa visão de um negócio para o qual se precisa de empreendedorismo, não só de conhecimento do Direito, mas de conhecimento de negócio jurídico, de uma carreira jurídica. Infelizmente, percebe-se que muito pouco se faz nessa direção.
Hoje, dentro da OAB, o que se percebe é um movimento político mais voltado aos interesses individuais de pequenos grupos em detrimento da maioria de advogados que fica desassistida, principalmente nesse momento de crucial importância profissional. Observamos uma movimentação de comissão de jovem advogado, de comissão de mulher advogada, enfim, de inumeráveis comissões, mas, na prática, quando se buscam os reflexos desse trabalho, de forma assertiva e expressiva no desenvolvimento da carreira do jovem advogado, não passam de respingos na superfície, pois não há realmente um trabalho eficaz de acompanhamento; trabalho de primeiros passos; trabalho de coach. Ao advogado iniciante, falta-lhe que a própria OAB desenvolva um trabalho de governança corporativa com o qual ela possa ancorar esse profissional, como incubadora de pequenos escritórios até que cheguem a médios; um trabalho de real interesse em dar essa sustentabilidade, essa perenidade a essa atividade jurídica no desenvolvimento da carreira.
Então, “Por que advogar?”, o que realmente vem desse questionamento? Por que advogar, se até agora só se colocam grandes dificuldades? Primeiro: sempre me perguntei por que advogar. Advogo, porque sempre me senti vocacionada a essa condição. Por que advogar? Porque sempre acreditei na Justiça. E aí, a gente não vai para as exceções, apesar de nós vivermos hoje o momento em que só se destaca aquilo que não é correto, o que é exceção, não se destaca o que é normal ou que a Justiça realmente funciona. Como advogada, digo: sim, funciona. Se não funcionasse, eu não estaria nessa militância há mais de 30 anos.
E advogar por quê? Porque o exercício da advocacia, inclusive previsto na Constituição Federal Brasileira, é sobremaneira indispensável ao exercício da Democracia e da preservação do Estado Democrático de Direito. É uma necessidade da Nação, da sociedade. Então, não há exercício de direitos se não houver o exercício de advocacia, e uma advocacia de militância real de governança corporativa, de carreira pensada e desenvolvida com visão de futuro, com propósito, de carreira com definição de valores ou carreira com definição de nichos de atuação. Por que advogar? Porque a advocacia, dependendo da forma como o bacharel ou mesmo o advogado em formação pensa e planeja, com certeza poderá ser uma grande carreira dentro do exercício de todas as carreiras jurídicas. Em momento algum, pensei trocar a minha militância como advogada por qualquer outra carreira dentro dessa visão sistêmica das atividades jurídicas. Por que advogar? Acima de tudo porque está no meu DNA, porque há realmente uma paixão que envolve o exercício da advocacia.
E você advogada e advogado, já se perguntaram quantas vezes por que advogar? Jogo o salva-vidas para vocês: esse questionamento sempre deve ser feito quando se decide por uma carreira jurídica; se com essa carreira jurídica, efetivamente, você será um advogado, uma advogada; deve ser uma interrogação constante com a visão dos prós e dos contras, analisando com responsabilidade e maturidade profissional se você realmente está preparado(a) para superar adversidades inerentes a qualquer profissão, principalmente na atividade jurídica. Por que advogar, é sua vocação? Esse não é uma mero detalhe, mas sim um pré-requisito, sine qua non, se pode pensar numa advocacia empreendedora. Sem vocação, não há como desenvolver uma atividade de forma autônoma e efetivamente empreender com sucesso. A advocacia nos possibilita esse empreendedorismo, quando você vai trabalhar no seu escritório, define o seu nicho de atuação e desenvolve produtos que possa vender para o público especializado. Mas é primordial que você se interrogue sempre sobre o que está fazendo em relação ao investimento da sua carreira jurídica.
Fique atento aos mares nunca dantes navegados! O empreendedorismo não vem só pelo fato de montar o próprio negócio, mas também pelo investimento na própria carreira. Então, questionar-se sobre para e por que advogar é a bússola para a direção certa de uma advocacia propositada ao desenvolvimento de uma carreira de sucesso. Então, boa sorte a todas as advogadas e advogados e principalmente aos jovens em processo de formação nos bancos das universidades. Navegamos em novos mares, e vocês têm a seu favor os ventos fortes de equipamentos de alta tecnologia e sofisticação. Levantem âncora e partam sem medo rumo ao seu destino de fazedores de justiça.
Terra à vista! Avante! Advogar é preciso!
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