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Diminutivos afetivos. Por Angela Barros Leal

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Existe uma unidade de tempo chamada um minuto, formada por sessenta segundos. É fato aceito em todo o mundo. E existe uma outra unidade, que denominamos “um minutinho”, ficção social de duração não mensurável, quase nunca compactada nos mesmos sessenta segundos do minuto, uma concepção fluida que transcorre além do tempo marcado pelo relógio, cuja função se vê alterada pelo afetuoso diminutivo.

O minutinho pertence à mesma família linguístico-temporal do momentinho, do pouquinho, do instantinho (“Peraí um instantinho!”), ao conjunto de expressões coloquiais que costumam minimizar as regras estabelecidas para a fala, que adquirem existência autossuficiente, e que se tornam independentes o bastante para estabelecer seus próprios e indefinidos marcadores.

Assim como na questão do tempo, não aprendemos na escola sobre a variabilidade capaz de incidir sobre o espaço, a exemplo do que se dá na familiar unidade de medida denominada “pertinho”: de quantos centímetros é ela formada, a quantos metros chega seu raio de alcance, por quantos quarteirões se estende. 

Sabemos que existe o “perto”, uma distância presumida entre um quarteirão e vários quilômetros, dependendo do parâmetro adotado ou do veículo que se utilize, e sabemos que, em complemento ao perto, há o “pertinho”, tornando o percurso mais próximo ainda do alcance dos bípedes quando acrescentamos o advérbio “bem”, acompanhante frequente do “diminutivo afetivo”, que poderia – por que não –, se constituir em uma nova classe gramatical.

Se o mecânico afirma que vai dar um jeito no problema do carro, qualquer que seja o problema, podemos esperar um trabalho experiente, profissional, permanente. Já quando ele arrisca que vai dar um “jeitinho”, mais fácil pressentir uma solução criativa, dotada do DNA do autor, e com sério risco de se configurar temporária.

Um café carrega certa cerimônia, uma formalidade que o cafezinho, de camiseta, bermuda e chinela, prefere ignorar. As xícaras podem ter igual tamanho, a quantidade de café a ser ingerida também, entretanto é perceptível a diferença entre ambos.

Na mesma linha, uma coisa é considerar bonita uma pessoa, uma obra de arte, o que indica um grau mínimo de reflexão e seriedade, uma certa postura de análise que envolve a mão no queixo e um profundo olhar enviesado, e outra coisa bem diferente é avaliá-la como apenas “bonitinha”, conferindo, de imediato, leveza, graciosidade e irrelevância ao que está sendo visto. A diferença entre ambas as palavras se expressa em qualidade, dando lugar a um grau indefinido de sensibilidade.

Pelas regras, o diminutivo quantifica o que é material, e assim deveria ser. Uma casa não é o mesmo que uma casinha. Um caderno é diferente de um caderninho. Existe um banco, e existe um banquinho (na parceria usual de um violão). 

Não dá para detalhar o que distingue o devagar do que seja “devagarinho”, além do pé ante pé paciente, do movimento descansado, da tranquilidade subentendida nesse caminhar com menos pressa do que se teria, caso fosse usado a forma regular do advérbio de modo.

Tal contexto se mostra difícil de ser explicado, especialmente a estrangeiros falantes de idiomas não latinos, pelo fato de caracterizar o toque sentimental em que mergulha a nossa língua, embebendo nossas palavras de conotações aconchegantes, alheias às rígidas normas vocabulares. Que o diga o nosso tradicional e carinhoso “meu bichinho”, indiferente a espécies, ou ao tamanho delas.

Experimente envelhecer, nem que seja só um tantinho, para constatar como de súbito todo o seu corpo passa a ser descrito no diminutivo: levante o pezinho; mexa o bracinho; feche o olhinho. Se alguma redução física se deu em nossos órgãos ou membros, terá sido de irrelevantes milímetros. Nada além do carinho para justificar a (às vezes desconfortável, é verdade) intromissão do “inho”, ou do mais coloquial “im” de “minutim”, de instantim”, de “bichim”.

O mais das vezes, “inho”/“im” escapolem pelas brechas da gramática, configurando-se como um toque de benquerença, um sinal de apreço, a sinalização perfeita para um dia igual a hoje, que há de transcorrer bem “direitim”.

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