Por Fábio Campos
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Ao formalizar o adeus ao PDT, Evandro Leitão (sem partido) dá mais uma firme martelada no prego da candidatura a prefeito de Fortaleza em 2024. Como sabemos bem, o movimento é parte de uma articulação que junta três protagonistas da política do Ceará: o governador Elmano de Freitas, o ministro Camilo Santana e o senador Cid Gomes.
Atentem para os últimos movimentos dessa articulação: a volta de Cid para o comando estadual do PDT, com a consequente assinatura da “carta de anuência” para Evandro deixar a sigla sem perder o mandato (com tendência a se tornar um rumoroso caso no tapetão da Justiça Eleitoral e a primeira decisão a respeito já ocorreu), a consumação da captura do PSB agora sob o comando de Eudoro Santana que assim voltou à velha casa, o ardil da saída de Domingos Filho e seu PSD da base de José Sarto/Roberto Cláudio e, o mais recente, o by pass do presidente da Assembleia no PDT.
Um movimento avassalador e a passos largos.
Atenção: Para entender tudo o que está acontecendo na política do Ceará, assista ao Focus Colloqium com Fábio Campos, Dimas Oliveira e Ricardo Alcântara.
A seguir, pontuamos cada um desses movimentos.
Cid no comando do PDT
Mover esta peça no tabuleiro era fundamental. Foi preciso criar a ambiência partidária para que Evandro saísse do PDT sem que a sigla se recussasse a permitir. Claro que Cid e Evandro sabiam muito bem que, da forma como foi feito, esse movimento não é contemplado pelo estatuto do partido e nem pela lei que define os mandatos parlamentares como propriedade da sigla que as elegeu. Porém, com a configuração do adeus, qualquer ação do PDT para tomar o mandato de Leitão vai parecer perseguição. E isso tem valor nas disputas político-eleitorais.
Não foi à toa que o governador Elmano já tenha usado esse termo (perseguição) para caracterizar as ações e falas contra Leitão da ala pedetista que permanece ao lado de José Sarto/RC. Assim qualquer tentativa de tomar o mandato de Evandro vai torná-lo uma, digamos, vítima de ameaças e perseguições.
A tendência natural é a judicialização desse caso. E aí o PDT nacional, que tem legitimidade para tal, terá de provar que Evandro Leitão saiu sem motivações que justificassem essa opção. Portanto, terá seu mandato requerido pela sigla. Pelo seu lado, o presidente da Assembleia vai retrucar. Várias instâncias da Justiça serão percorridas. O tempo vai passar… até que, talvez, a conjuntura seja outra. E talvez Inês já esteja morta.
Mas, a tarefa de Cid no comando do PDT não é apenas referente ao caso de Evandro Leitão. O senador tem ainda o seguinte movimento a fazer: formalizar a participação do PDT na base do governador Elmano. Feito isso, mesmo que André Figueiredo volte à presidência do partido, não terá força política para desfazer.
Eudoro no PSB
O pai de Camilo Santana volta à casa que já lhe abrigou. E que abrigou também o vice-prefeito Elcio Batista, que foi indicado em 2020 por Eudoro para compor a chapa de Sarto. Na campanha de governador, em 2022, Elcio não seguiu com Eudoro e optou por fazer campanha para RC. O imbróglio deixou marcas severas, creiam.
Bom, o fato é que o PSB não está mais na base de Sarto e agora é uma alternativa para viabilizar a candidatura de Evandro a prefeito. Por favor, não descartem a possibilidade de o PT topar apoiar a candidatura a prefeito do presidente da Assembleia pelo PSB. Por que não? As conversas estão em andamento. Atentem para as assertivas de José Guimarãesa batendo na tecla de que a candidatura a ser apoiada na Capital tanto pode ser pelo PSB quanto pelo PT. Para bom entendedor…
O fato é que Eudoro é o guardião dessa possibilidade.
O golpe político de Domingos
Pouca gente deu atenção devida a esse movimento. Trata-se de um duro golpe em José Sarto e sua necessidade de reeleição. Não, não. Nada tem a ver com necessidades administrativas. O golpe de Domingos foi na candidatura a prefeito da ala pedetista municipal.
Explica-se: ao migrar para o palanque que junta Elmano, Camilo, Cid e outros tantos, Domingos tornou nanica a candidatura pedetista em Fortaleza. Para que tenham uma ideia, o PSD sozinho tem mais tempo no horário eleitoral e mais dinheiro do fundo público de campanha que a união do PDT com o PSDB/Cidadania.
Considerando que o tamanho da bancada federal é que define o tempo no horário eleitoral, o PSD elegeu 43 deputados federais enquanto a soma do PDT com o PSDB chega a apenas 36. O PP, outra sigla do grande arco em torno de Elmano, também elegeu 43 deputados. Dessa forma, não duvidem se o tempo de TV do candidato de uma possível aliança que junte PT, MDB, PSD, PP e outros menos votados chegar a ser quatro vezes maior que a aliança que hoje forma a base oficial de Sarto.
Trocando em miúdos, Sarto vai ter parcos segundos para fazer campanha no programa eleitoral e direito a um punhado de inserções de TV durante a campanha. Insuficiente. Como já é clássico, os prefeitos costumam usar o horário eleitoral como âncora fundamental de retomada da popularidade e de melhoria da aprovação da gestão. Sem uma aliança forte e ampla, o prefeito de Fortaleza vai virar pato manco.
Impressiona a fragilidade da articulação política em torno de Sarto. Gente de proa por lá só soube do divórcio de Domingos quando a imprensa noticiou. Creiam. Atentem: Domingos foi o candidato a vice de Roberto Cláudio na disputa para o Governo. Por isso, foi louvado até por Ciro Gomes, até então um notório crítico de Domingos.
A preço de hoje, não há mais partidos com alguma relevância disponíveis na prateleira para compor com o PDT em Fortaleza. O prejuízo é imenso.