Por Ricardo Alcântara
Articulista do Focus
No vôlei eleitoral de Fortaleza (uma metáfora), o bolsonarismo levanta, mas não corta: com um agrupamento evangélico bem articulado, mas vinculado a uma liderança rejeitada por 61% dos eleitores (DataFolha), o candidato do PL, André Fernandes poderia até provocar um aborto no projeto do Capitão Wagner, seu vizinho no condomínio conservador, mas sua condução ao segundo turno é uma quimera.
O Capitão Wagner pretendia sair à francesa do reduto bolsonarista, mas o movimento radical se antecipou a ele com o bem sucedido lançamento de André Fernandes e tratou de cassar sua carteirinha de sócio. O desafio do capitão é repor tais perdas eleitorais buscando conquistar o antipetismo moderado. Seu problema: as barricadas do antipetismo moderado com que ele flerta estão, em boa parte, nos bairros mais abonados, onde seu nome penetra menos. Pode dar certo: com 30% de intenções de votos na largada, ele tem uma gordurinha para queimar. Mas, como alguém já disse, “essa estória de ficar trocando de torcida não costuma terminar bem”. A ver.
Já o prefeito José Sarto lida com uma equação diferente: máquina x impopularidade. Sobre este, vale lembrar que gestões costumam obter, em maior ou menor medida, melhores índices de aprovação no curso da campanha de televisão, mas o trunfo principal do prefeito – concreto, tangível, mensurável – é a capilaridade de sua rede de distribuição de favores que começa num vereador e acaba no bodegueiro que vende fiado lá na esquina. É o que os analistas políticos levam em conta quando cogitam que a luta no primeiro turno é para saber quem disputaria com ele o segundo. É o senso comum. Mas o senso comum não goza de muito prestígio na conjuntura eleitoral da Fortaleza deste ano.
Por seu lado, o candidato do Lulismo se guarda “pra quando o carnaval chegar”: a massificação televisiva de setembro. Evandro Leitão não oferece à questionada gestão de Sarto o contraponto de nenhuma experiência administrativa de peso relevante. Tampouco tem identidade com a militância de base e simpatizantes mais mobilizados do PT de Fortaleza. Não é um candidato curricular, nem de base. Mas é o candidato de Lula. De Camilo e Elmano. Isto é, na candidatura, o projeto é maior que o candidato e sua sorte está lançada nos dados da transferência de votos, enquanto nosso Vozão afunda nos desmandos inconfessos dos incompetentes a quem ele confiou o brilhante legado que lhe garantiu notoriedade.
Como se pode ver, a coisa não está fácil pra ninguém e só os muito mal informados estão distribuindo certezas quando, no momento, mais do que apressar respostas, é preciso fazer as perguntas certas.
PS: Não foi por esquecimento que nada comentei sobre Eduardo Girão: este é candidato de si mesmo. Nada o cerca, senão a possibilidade de atrapalhar a votação dos outros candidatos de direita – o que pode vir a ser, ironicamente, até decisivo numa eleição apertada.