SideWalk: recuperação judicial expõe os desafios do varejo brasileiro

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SideWalk. Foto: Reprodução

A SideWalk, tradicional marca de roupas e calçados, entrou com um pedido de recuperação judicial nesta semana, citando uma dívida de R$ 25,5 milhões. A situação da empresa, que enfrenta dificuldades para se manter competitiva, reflete um cenário desafiador para o varejo brasileiro, especialmente no setor de vestuário. A SideWalk agora se junta a uma lista crescente de empresas do setor que lutam para superar crises financeiras.

Entre as empresas que também enfrentam dificuldades estão nomes conhecidos como Coteminas, Polishop, Grupo Petrópolis, SouthRock, Grupo Casas Bahia e Dia. O caso mais notório é o da Americanas, que além das dificuldades financeiras, enfrenta acusações de fraude.

No pedido de recuperação judicial, a SideWalk apontou diversos fatores que contribuíram para sua crise, incluindo a queda nas vendas durante a pandemia, o aumento dos custos de aluguel em shoppings, impactos de mudanças climáticas e até mesmo o crescimento das apostas online, que desviaram parte do consumo dos clientes.

Sem conseguir se posicionar de forma significativa no comércio eletrônico e com um público envelhecido, a SideWalk perdeu relevância para marketplaces e concorrentes no setor de vestuário. “O modelo de negócio está ultrapassado”, afirma Ana Paula Tozzi, CEO da AGR Consultores, especializada em varejo. “Há necessidade de reposicionamento. Quando isso não acontece, fica difícil.”

A SideWalk, que viu suas vendas caírem 15%, agora lida com o desafio de manter 21 lojas em operação, enquanto outras 12 estão em processo de fechamento. O pedido de recuperação judicial não inclui as 20 lojas franqueadas da marca.

O Grupo Soma, outra gigante do setor de vestuário, também tem enfrentado dificuldades, registrando uma queda de 63,7% no lucro líquido do primeiro trimestre de 2024, ficando em R$ 21,3 milhões. Essa situação é exacerbada pela dependência do setor varejista de crédito, que sofreu com a manutenção da alta taxa de juros, contrariando expectativas de queda.

A crise da SideWalk é mais aguda em comparação a outras empresas do setor, levando a varejista a solicitar à Justiça a antecipação de proteção, garantindo a continuidade de serviços essenciais, como eletricidade e internet, até que o pedido de recuperação judicial seja aceito.

Em um contexto mais amplo, o varejo brasileiro enfrenta desafios sistêmicos. No mercado de ações, empresas do setor têm visto uma queda acentuada em seus valores. O Magazine Luiza, por exemplo, acumula uma desvalorização de quase 35% desde o início do ano, enquanto as ações do Grupo Casas Bahia caíram mais de 50% no mesmo período.

Nelson Marconi, economista e professor da FGV, ressalta que “a economia brasileira não cresce o suficiente para estimular uma alta consistente das ações relativas a empresas de varejo. A taxa de juros elevada inibe os investimentos e retrai o crescimento da economia.”

Apesar desse cenário desafiador, algumas empresas do varejo conseguiram apresentar resultados financeiros positivos no segundo trimestre de 2024. Lojas Renner, por exemplo, registrou um lucro líquido de R$ 315 milhões, um aumento de 37% em relação ao mesmo período do ano passado. Já Casas Bahia e Magazine Luiza conseguiram reverter prejuízos do ano anterior, registrando lucros de R$ 37 milhões e R$ 37,4 milhões, respectivamente.

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