O mercado de trabalho brasileiro continua a experimentar uma alta significativa nos pedidos de demissão. De janeiro a junho de 2024, 4,259 milhões de pessoas solicitaram desligamento de seus empregos, um aumento de 14% em relação ao mesmo período de 2023, conforme uma sondagem recente do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). Se o ritmo se mantiver, o ano pode terminar com um novo recorde de pedidos de demissão, superando os 7,3 milhões registrados em 2023, que já representaram um crescimento de 7% em relação a 2022.
A mobilidade no mercado de trabalho atual é comparável à de 2010, quando 4,6 milhões de pessoas pediram demissão ao longo do ano. No entanto, o número de 2023 representa um aumento expressivo de 60,8% nos pedidos de desligamento em comparação a 2010, e apenas no primeiro semestre de 2024, o total já se aproxima do registrado em todo o ano de 2010.
Motivações por trás das demissões
De acordo com o levantamento “Motivos dos Desligamentos a Pedido” do MTE, o principal motivo para os pedidos de demissão continua sendo a busca por salários mais altos, citado por 32,5% dos trabalhadores. Contudo, a sondagem também revelou que as razões vão além da remuneração. A pesquisa destacou que 36,5% dos trabalhadores já tinham outro emprego em vista ao pedir demissão, enquanto 24,7% indicaram que seu trabalho não era reconhecido. Questões éticas relacionadas à forma de trabalho da empresa (24,5%), problemas com a chefia imediata (16,2%) e a falta de flexibilidade na jornada (15,7%) também foram mencionadas como fatores decisivos.
Entre as mulheres que pediram demissão, 29% relataram que o estresse no trabalho causou adoecimento mental, um percentual significativamente maior do que o registrado entre os homens (18%).
Impacto no mercado e resposta das empresas
O aumento no número de demissões voluntárias é um reflexo de um mercado de trabalho mais aquecido, que facilita a troca de emprego. Em média, 58% dos trabalhadores que pediram demissão conseguiram um salário maior ao serem recontratados, com abril de 2024 se destacando como o mês mais positivo, quando 62% dos demissionários encontraram novos empregos com melhores salários.
A pesquisa do MTE também mostrou uma concentração geográfica dos pedidos de demissão, com 36% dos respondentes residindo em São Paulo, 23% na Região Sul e 20% nos demais estados do Sudeste.
Diante desse cenário, as empresas precisam reavaliar suas estratégias de retenção de talentos. A chefe de RH do Will Bank, Luiza Gomide, ressalta que, embora a política de remuneração continue sendo importante, outros fatores também influenciam a permanência e a satisfação dos colaboradores. “Salário já não é mais o único fator para garantir a retenção e a felicidade dos colaboradores”, afirmou Gomide, destacando a necessidade de criar ambientes de trabalho mais saudáveis e oferecer oportunidades de crescimento e reconhecimento.