Candidatos que não se saem bem nas pesquisas de intenção de votos costumam desmerecê-las, como se elas fossem manipuladas e, usando da boa e velha demagogia, dizem que “pesquisa mesmo é a urna”. Desde 2018, com a eleição disruptiva de Jair Bolsonaro (PL) e de uma série de outros “improváveis”, políticos de (extrema)direita sentem-se mais à vontade para desacreditar o trabalho dos institutos.
No ano da graça de 2024, contudo, acontece algo bastante diferente em Fortaleza: além de vermos André Fernandes (PL) e seus apoiadores em júbilos pela sua fulminante ascensão “nas pesquisas”, a semana já se inicia com uma ruptura na gramática que até então regia alguma das candidaturas. Na verdade, uma avalanche! Sarto, em queda crescente atestada por todas as pesquisas, com a Atlas/Intel à frente temporalmente, tirou sua juliette, deixou o trio “sartinho, eltinho e robertinho” de lado, não fala mais de “sal” e passou a concentrar artilharia em André, um dos dois que cresceram “segundo as pesquisas”.
Mas, a mudança mais radical opera-se na estratégia do até aqui “centrado” Capitão Wagner (UNIÃO), que ainda no sábado à noite fazia circular, em sua propaganda na TV e no Rádio, imagens de André, quando adolescente, a emular consumo de drogas e um possível feminicídio. Com a resposta pronta de André ainda na noite do sábado, em vídeo nas redes sociais e com o pedido à Justiça Eleitoral para a retirada do vídeo (o que nos sugere que o candidato sentiu o potencial efeito da circulação), o ex-aliado resolveu fazer do assunto o filão para a semana de campanha.
No domingo, em vídeos de “defesa da família”, alertou para “brincadeiras” e “imaturidade” do adversário do PL, e passou a falar, muito, em “deus” e alfinetou: “não basta ser de direita, tem de ser direito”, sugerindo que seu oponente é um tortuoso. Além disso, pôs o esposo de sua vice para falar de valores morais e exemplos para adolescentes.
Como “cavalo selado não passa duas vezes”, Wagner utilizou-se sobremaneira do debate promovido na noite desta segunda, 16/09, pela TV Otimista não apenas para atacar duramente André, e fazer recortes para suas redes, mas especialmente para denunciar um suposto plano do PT (“sistema”) para ter seu ex-aliado no segundo turno, porque seria mais fácil derrotá-lo no segundo turno, sugerindo, em uma das postagens que “André não tem coragem” para escolhê-lo durante o debate para perguntas.
Wagner lembrou, para além do tempo de adolescência, práticas nada ilibadas de André que remontam a 2021, relacionadas a questões de gênero (feminicídio, equiparação salarial, ataques a jornalista).
Não perdendo a temperança, dada sua imagem de rebelde e aguerrido, André acusou um certo conluio do “sistema” (sempre ele) para tentar desgastá-lo, acusando de “desesperados” Sarto e Wagner, mostrando-se “decepcionado” com este, que em “todas as respostas” o teria atacado, finalizando com a seguinte frase: “vou orar por você”. Ao final do debate, registrou que “todas as armas da campanha de Wagner” voltaram-se contra si, assegurando com olhos fitos: “você já perdeu três eleições e vai perde a quarta”.
Sua reação também se deu na TV, quando ele mesmo levou as imagens exibidas por Wagner para desacreditá-las sob a ótica da “comédia” e de “vídeos bobos de humor”. Do debate, cortes que ilustravam sua tática de investir contra o ex-aliado: “André mostra a realidade sobre Wagner-Sarto”, “desmascarando Wagner ao vivo”, “Wagner passando mais uma vergonha”, “Tapioca e Sarto quase se abraçando”, “desafio você a acertar quantas vezes ele (Wagner) falou André no debate”, juntando-se a um vídeo que está fixado em seu insta: “André Fernandes fala a verdade sobre Cap. Wagner”.
A grande questão analítica dessa estratégia fraticida é a seguinte: que efeitos terá, para cada um deles, num eventual segundo turno em que somente um deles esteja? A radicalização da oposição ao colega de direita vislumbra, de que modo, furar a bolha e chegar ao conjunto majoritário do eleitorado fortalezense?