A fúria do padre e a artimanha do sacristão. Por F J Caminha

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Francisco Caminha é escritor, advogado, especialista em Ciência Política e servidor público.

O polêmico padre Ferreira da paróquia do Patrocínio em Fortaleza era o responsável pela igreja de Santa Edwirges, aquela que fica vizinho ao Hotel Marina Park. Era dotado de um temperamento forte, ousado, inquieto e zangado. Eu gostava das missas dele porque não demorava muito, não se prolongava no sermão, era direto e pragmático. Uma vez teve um pedido negado pelo governo e quando foi mal recebido por um secretário estadual, ficou com tanta raiva que o vi jogar as pragas do Antigo Testamento sobre a administração.

Em 2007, os organizadores do Movimento pela Paz – MOVPAZ, solicitaram ao pároco que suspendessem as duas missas do Domingo a tarde porque iria ocorrer uma grande caminhada em favor da paz e contra o desarmamento no Brasil e o trecho da Avenida Leste Oeste, na altura da Santa Edwirges, seria interditado pela Prefeitura Municipal de Fortaleza. O padre não concordou e imediatamente acionou a prefeita da época, Luizianne Lins, que não autorizasse o evento naquele local. Quando os responsáveis pelo evento foram receber a licença da prefeitura, receberam a notícia que sem a anuência do padre o evento não poderia ocorrer no trecho solicitado. Foi quando recebi na Assembleia Legislativa os organizadores do evento pedindo que eu interferisse junto ao pároco a autorização para o evento. Coincidentemente uma liderança minha era o sacristão do padre Ferreira e estava comigo no gabinete. Chamei-o e fiz o seguinte desafio:

– Tenho em uma missão especial para você que será convencer o padre Ferreira a concordar com o evento do MOVPAZ e se você conseguir terá um bônus de gratificação.

– Chefe eu resolvo, vamos fazer um ofício assinado pelo líder do MOVPAZ convidando o padre para o evento. O ofício foi feito e ele foi no computador e sorrateiramente, sem ninguém saber, inseriu no texto que o padre iria ser homenageado com a comenda EMBAIXADOR DA PAZ que seria entregue pessoalmente por dois senadores do Ceará.

Padre Ferreirinha se animou com a homenagem, cancelou as missas e se engajou de corpo e alma na campanha. No dia da caminhada uma multidão de pessoas se aglomeraram na avenida, principalmente, em torno do enorme caminhão do Trio Elétrico. O evento se iniciaria com a canção “Paz pela Paz” interpretada pela cantora Elba Ramalho, seguida de uma oração ecumênica a ser feita pelo pastor Samuel Munguba Jr. e o padre Ferreira. Acontece que o sacerdote chegou em cima da hora e esqueceu de colocar a pulseira que lhe daria a acesso a subir no caminhão. No sufoco do congestionamento de pessoas, o segurança da empresa contratada barrou o padre, a caminhada começou e só o pastor fez a oração.

O padre frustrado ficou enfurecido com o sacristão e com organizador do evento. Além do mais, nem existia a tal homenagem. O fato é que padre Ferreira foi a público e arremessou as pragas do Egito no evento. Três anos depois, dois organizadores da ONG MOVPAZ foram acusados e depois condenados por fraude na campanha do desarmamento. A campanha tinha a intenção de recolher armas da população, mas os acusados inseriam dados falsos no sistema utilizando-se da artimanha de fabricar armas artesanais para receber do governo o valor por peça recolhida.

Ainda bem que o padre não ficou com raiva de mim.

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