O novo plano tarifário de Donald Trump, se colocado em prática, levaria o sistema global de comércio a retroceder mais de um século — com tarifas nos EUA no maior patamar desde 1909. A medida acendeu alertas de recessão e provocou dois dias seguidos de pânico nas bolsas globais.
Por que importa:
A investida de Trump contra a globalização não é um rompante isolado — é o ápice de uma agenda que ele defende há quase quatro décadas. Em 1987, ele já denunciava o “sistema injusto” contra os EUA em anúncios pagos nos jornais. Agora, sente-se legitimado a virar a maré da história econômica americana.
A ruptura:
Trump quer desmontar o sistema multilateral que, para grande parte do mundo, tornou os EUA a nação mais próspera do planeta. Para ele, o país foi saqueado por aliados e rivais — e chegou a hora de “prosperar” sozinho.
Mas o plano esbarra em contradições: penaliza aliados estratégicos (como Japão e UE), ignora o setor de serviços e ameaça as cadeias produtivas das quais a própria indústria americana depende.
Impacto ideológico:
A investida tem forte carga simbólica:
- Na direita, boa parte via em Trump um ícone da modernidade e do livre mercado. Agora, vê um protecionista radical, disposto a romper com 60 anos de política comercial americana.
- Na esquerda, setores sempre trataram a globalização como um mal — fonte de desigualdade, desindustrialização e submissão aos interesses corporativos transnacionais. A guinada de Trump, paradoxalmente, ecoa argumentos históricos da esquerda crítica ao livre comércio.
O pano de fundo:
Segundo o Financial Times, Trump tenta devolver os EUA a um cenário pré-globalização — possivelmente à sua infância nos anos 1950, ou mesmo ao século 19, quando tarifas eram a principal fonte de receita do Estado.
A inspiração mais citada entre especialistas: a política econômica que antecedeu a Grande Depressão, com destaque para a tarifa Smoot-Hawley, que levou o mundo a uma guerra comercial generalizada.
E agora?
- A tarifa média saltaria de 2,5% para 22%
- A China já respondeu com tarifas de 34%
- UE e Reino Unido, por ora, evitam retaliação
- Investidores já preveem recessão nos EUA
Vá mais fundo:
Michael Strain, do American Enterprise Institute, classificou o plano como “uma mistura de mercantilismo convicto, ignorância sobre o funcionamento da economia global e incompetência na execução”.
Para Gary Richardson, especialista na Grande Depressão, “as analogias históricas sugerem que as coisas podem dar muito, muito errado”.
O que está em jogo:
A ruptura vai além do comércio: ameaça a lógica de cooperação internacional construída no pós-guerra. Richardson alerta: “Conflitos comerciais sérios podem se espalhar para a política global e fomentar guerras.