Poucos nomes atravessam a política cearense com tamanha dignidade, consistência e longevidade quanto Tasso Jereissati. Há quase quatro décadas ele representa não apenas um ciclo de poder, mas uma ruptura com as práticas retrógradas que, por tanto tempo, afundaram o Ceará na mesmice e na dependência. Hoje, mesmo fora dos cargos eletivos, sua presença segue decisiva. Tasso é referência moral e estratégica para uma oposição que ainda tateia por um novo eixo ético e institucional.
Em um tempo de líderes barulhentos e de partidos que se esfarelam na lógica de cargos e conveniências, sua recusa à bajulação institucional o torna ainda mais necessário. Quando se dispõe a ouvir, aconselhar e refletir com líderes políticos sobre o rumo da política cearense, Tasso assume o papel que poucos sabem ou ousam exercer: o de fiador da coerência. Sua figura se destaca como um centro de gravidade que não cede à pressa eleitoral nem ao populismo camuflado de pragmatismo. Ele é presença que ancora, não presença que dispersa.
Não é exagero dizer que Tasso é um ponto de inflexão na história recente do Ceará. Seu primeiro governo, em 1986, inaugurou o que se convencionou chamar de “mudancismo”, uma ruptura frontal com o clientelismo, o assistencialismo barato e a velha lógica dos coronéis. Foi um projeto ousado, enraizado na ideia de gestão moderna, responsabilidade fiscal, investimentos em capital humano e redesenho do pacto federativo cearense. E mais do que discurso, ele entregou resultados. O que parecia impossível, reorganizar o Estado e restituir-lhe autoestima, foi feito com método, coragem e serenidade.
Mas o legado de Tasso não se esgota no passado. Ao contrário, sua presença como referência ética e intelectual segue viva. O simbolismo de suas gestões continua a ecoar entre os que ainda buscam uma política com propósito. Sua capacidade de articulação, apontada por cientistas políticos e por lideranças de diferentes matizes, revela que sua ausência das urnas não é ausência da política. Pelo contrário, seu distanciamento do poder conferiu-lhe uma liberdade rara, a liberdade de sustentar princípios mesmo quando estes não garantem vitórias eleitorais. E ele tem sustentado princípios, decência e projeto.
O Ceará, neste momento, precisa olhar para sua própria história recente com a responsabilidade de não regredir. A decadência institucional e o esgarçamento ético em curso pedem por referências vivas, capazes de dialogar com a memória sem se render à nostalgia. Tasso, hoje, é mais do que um ex-governador ou ex-senador: é um estadista. Um homem público que, mesmo em silêncio, ainda fala alto. E cuja escuta prudente pode ser o que falta a muitos que correm atrás de votos, mas esqueceram de correr atrás de ideias.
Celebrar Tasso é mais do que reverenciar uma trajetória. É defender, com lucidez, que o Ceará não pode naufragar os avanços conquistados durante suas governanças. É clamar para que a política local volte a reconhecer que ética não é ornamento, é coluna. E que lideranças não se medem pela agressividade no palanque, mas pela firmeza no exemplo. Que a sensatez volte a ter espaço, que o mérito supere o berro, que a responsabilidade pública reencontre sua morada.
Que Tasso siga sendo essa consciência presente no presente. E que a nova geração de líderes cearenses saiba reconhecer nele um espelho, não para imitá-lo, mas para se lembrar de que é possível, sim, fazer política sem se sujar. E mais ainda, que fazer política com decência e inteligência não é utopia, é escolha.
