É imprescindível conhecermos a realidade para nos conduzirmos com equilíbrio, coerência e sensatez nas relações que temos com os Estados Unidos da América, parceiro histórico e incontornável na cena global. Muitas vezes, no calor das disputas internas, tende-se a minimizar a dimensão dessa potência. Mas os números e fatos falam por si.
No campo econômico, a diferença é abissal. O PIB norte-americano gira em torno de US$ 29 a 30 trilhões, enquanto o do Brasil alcança pouco mais de US$ 2,3 trilhões. Isso significa que a economia americana é treze vezes maior. Se olharmos para o PIB per capita, o contraste é ainda mais eloquente: cerca de US$ 79 mil por cidadão americano contra menos de US$ 10 mil por brasileiro.
Em termos de comércio bilateral, os EUA acumulam nos últimos 15 anos um superávit de mais de US$ 400 bilhões sobre o Brasil. Para a economia americana, o Brasil representa apenas 0,27% de seu mercado, enquanto para nós os EUA significam quase 4% do nosso comércio. A assimetria é clara: dependemos muito mais deles do que eles de nós.
Por setores, o cenário reforça a mesma constatação. Na tecnologia, os Estados Unidos são o berço das maiores empresas globais e investem mais de US$ 650 bilhões anuais em pesquisa e desenvolvimento. O Brasil investe pouco mais de US$ 26 bilhões, sem nenhuma empresa de escala global comparável. No setor energético, os EUA são o maior produtor mundial de petróleo e gás, além de líderes em energias renováveis; o Brasil tem avanços notáveis no pré-sal e em energia limpa, mas não na mesma escala. No sistema financeiro, o dólar é a moeda de reserva do planeta, e Wall Street concentra mais de US$ 50 trilhões em valor de mercado, enquanto a bolsa brasileira não passa de US$ 1 trilhão.
Mesmo em comparações regionais, os Estados Unidos se mantêm à frente. A União Europeia possui um PIB próximo de US$ 19 trilhões e enfrenta dificuldades políticas internas. A China, com US$ 18 trilhões, ainda depende de insumos críticos americanos. Já o Brasil, com seus US$ 2,3 trilhões, não disputa protagonismo, mas desempenha papel complementar.
Reconhecer essas proporções não significa submissão, mas lucidez. Não se constrói uma diplomacia equilibrada a partir da negação da realidade. A relação com os Estados Unidos precisa ser conduzida com clareza de nossa posição, consciência de nossas potencialidades e senso de oportunidade.
Quando ministros do Supremo ou representantes da diplomacia nacional desafiam a maior potência econômica e militar do planeta como se estivéssemos em pé de igualdade, corremos o risco de nos encastelar numa redoma frágil, posando para fotos caricatas ao lado de ditadores de regimes pobres e autoritários. É preciso criar juízo, aquilatar os fatos e agir com bom senso.
O Brasil não precisa de bravatas para afirmar sua soberania, mas de maturidade para construir relações que transformem a assimetria em cooperação vantajosa. Afinal, não é a retórica que sustenta um país no cenário global, mas a clareza com que reconhece sua realidade e projeta seu futuro.