
“Há sujeitos que nascem, envelhecem e morrem sem ter jamais ousado um raciocínio próprio.” A sentença de Nelson Rodrigues atravessa o tempo como um corte seco, desnudando uma verdade incômoda.
Viver sem pensar é existir por procuração. É permitir que outros conduzam os passos, moldem as opiniões e definam o sentido da vida. Nelson, com sua escrita crua e sem fantasias, nos lembra que há quem percorra a existência sem nunca se arriscar a questionar, a duvidar ou a formular uma ideia própria. Talvez não exista desperdício maior do que esse: atravessar o mundo sem experimentar o peso e o prazer do próprio pensamento.
A ousadia intelectual não é luxo. É necessidade vital. É o que nos afasta da repetição mecânica, que nos separa do rebanho e nos permite enxergar a vida como ela é. Ler Nelson Rodrigues é ser lançado contra o espelho, sem adornos, sem filtros, sem enfeites. Desde a adolescência, muitos da minha geração nos tornamos seus leitores assíduos porque nele encontramos a coragem que tantas vezes nos falta para dizer o indizível e pensar o impensável.
Ser admirador de Nelson Rodrigues não exige esforço. Basta uma página, um parágrafo, às vezes uma frase curta, para sermos tomados pelo choque de realidade que ele impõe. Eu leio e releio, sempre, porque nada me parece mais honesto do que a tentativa de encarar a vida sem alegorias. Quem ousa pensar com a própria cabeça descobre que viver não é cumprir um roteiro, mas atravessar labirintos.








