O evento de filiação de novos quadros políticos ao PSB capitaneado por Cid Gomes na semana passada trouxe, pela segunda vez neste ano, o prefeito de Recife, João Campos, ao Ceará.
O jovem político vai dando corpo a seu projeto de poder, mirando o Palácio das Princesas (sede do governo pernambucano) e, quiçá, o Palácio do Planalto, como promessa de “renovação” dos quadros políticos da esquerda centrista.
Campos é (mais um) herdeiro político, já podendo ser considerado um “político profissional”. Neto de Miguel Arraes, filho de Eduardo Campos, irmão do deputado federal Pedro Campos e primo de Marilia Arraes, contra quem disputou a prefeitura de Recife em 2020 (uma disputa intrafamiliar, pois). De quebra, namorado de uma deputada federal: Tabata Amaral.
Embora de partido com bandeira vermelha, e promessa de frescor no campo da esquerda democrática, é rebento de um forte grupo político como tantos outros, que permanecem no poder pela “livre escolha” do eleitor. De uma oligarquia, para usar o termo técnico da teoria política.
Para seu projeto político, que olha para Pernambuco visando acertar no Brasil, resolveu dar as mãos a outro político tradicional: Cid Gomes. Também este um herdeiro político, de família de políticos.
Há 15 anos, os mesmos sobrenomes buscavam dar as mãos em projetos de poder locais com ambições nacionais: pelos Campos, Eduardo, então governador de Pernambuco em busca da reeleição; pelos Ferreira Gomes, Ciro, então deputado federal que visava sair candidato a presidente.
Eduardo, então presidente do PSB, resolveu seguir como aliado do petismo e apoiar Dilma Rousseff, frustrando os planos de Ciro.
À época, um petista de grande destaque deu uma infeliz declaração sobre Ciro, que em nosso tempo poderia produzir-lhe um cancelamento: “Ciro Gomes pegou o pau de arara no sentido errado“.
O que o petista queria dizer era que Ciro, nascido em São Paulo, fizera o caminho “errado” ao vir para o Ceará (leia-se “Nordeste”).
Dali em diante as relações entre os dois grupos político-familiares se azedaram, fazendo com que Ciro e Cid deixassem o PSB e apoiassem a reeleição de Dilma, em 2014, opondo-se à pretensão presidencial de Eduardo, encerrada no trágico acidente.
Ciro, à época, dizia que Eduardo queria fazer, em 2014, o que ele mesmo pretendera em 2010; mas, segundo ele, o cenário não era favorável, então, como o fora em 2010.
Dois “novos” personagens, com seus grupos políticos assentados em seus estados e no PSB, agora reúnem-se: Cid e João; o jovem político sabe que, para encarnar o “novo” precisará da força política de grupos tradicionais (o “velho”) estabelecidos nos estados. Por que não começar pelo vizinho Ceará?
Cid nada tem a perder, ao demonstrar habilidade política e jovialidade e juntar-se a um projeto com faceta de renovação.
Ele mesmo pode encampar tal ideia. Daí, talvez, a insistência em Júnior Mano.
