Mudança de tom: No ato de filiação de Roberto Cláudio ao União Brasil, Ciro Gomes manteve a escalada de seu tom conciliador buscando reescrever a longa trajetória de ataques trocados entre ele e o Capitão Wagner — a quem já tratou como miliciano responsabilizando-o pelos motins policiais e pelo aumento da violência no Ceará. Dando novas cores ao dinamismo da política, Ciro argumentou, se dirigindo de forma carinhosa ao ex-deputado, que os ataques que dirigia era em defesa do irmão Cid: “Solidariedade cega”.
O que disse agora:
“Hoje percebo que aquela agressividade [do Capitão] era um espírito público ainda não burilado, uma vocação política não adestrada, representando, a seu modo, mas de boa-fé, os interesses da corporação.”
“Manda meu coração cumprimentar o capitão Wagner, presidente do Diretório Estadual no Ceará, que inicia-se na política como adversário nosso. Eu menos por ele, mais por solidariedade cega ao meu irmão, lembro com certo riso, o que já foi muita amargura até recentemente, eu não queria nem saber quem era o capitão Wagner, eu só queria saber de atacar o capitão Wagner, porque ele era adversário agressivo do meu irmão”.
“Eu quero te cumprimentar em público, agradecer-se esse privilégio de estar mais perto, de lhe conhecer as virtudes mais perto, e até de dizer quanto erro eu cometi, também de boa fé, na defesa leal de um irmão, em quem eu também depositava a crença de que não errava, achava, porque é meu irmão, então não errava, e a gente vai aprendendo que as coisas não são bem assim”.
Antes: Até o início de 2022, Ciro afirmava o oposto. Em entrevista ao O Povo, em fevereiro daquele ano, quando Camilo Santana ainda governava o Ceará, acusou Wagner de ter liderado dois motins da Polícia Militar — em 2012 e 2020 — e de ter provocado “crescimento explosivo” dos homicídios no Estado.
“O marco que inverte a tendência de queda da violência é o motim do Capitão Wagner”, disse à época, relacionando o movimento da PM ao avanço das facções criminosas e das milícias.
Por que importa:
A mudança no discurso de Ciro coincide com o novo xadrez político no Ceará, onde a oposição busca reposicionar seus nomes após o fortalecimento da base do governador Elmano de Freitas. O elogio público a Wagner, antigo adversário frontal, sinaliza uma tentativa de reconciliação estratégica — ou, ao menos, de pacificação simbólica.
Entre linhas:
De inimigo declarado a exemplo de “vocação política”, Wagner reaparece no discurso de Ciro como peça útil à narrativa de moderação que tenta reconstruir pontes e, talvez, futuro político.







