
Há quem observe tudo com atenção e permaneça calado, e respeito o silêncio de cada um. Minha indignação não se volta para esses. Ela recai sobre os que se levantam prontamente em defesa dos poderosos porquanto isso alimenta negociatas, protege privilégios e preserva interesses que jamais ousariam confessar.
Ali não há ideologia, não há projeto de país, não há gesto mínimo de coletividade. O que existe é a velha prática de transformar o Estado em patrimônio privado, manipulando cargos, emendas e contratos como se fossem fichas de um jogo que só beneficia os mesmos de sempre. Movem-se com a naturalidade dos que já não distinguem o público do pessoal.
São usurpadores por vocação. Ambicionam preservar espaços de influência, ampliar vantagens e manter acesas as engrenagens de um sistema que prospera na sombra. Assaltam cofres públicos com a frieza dos que se sabem protegidos pelo silêncio cúmplice dos aliados e pela conveniência dos que lucram com a continuidade do ciclo.
Enquanto isso, o povo permanece à margem, submetido à miséria que se arrasta, à insegurança que se intensifica e à desesperança que esses mesmos operadores alimentam e cultivam com precisão calculada.
Há quem prefira o silêncio, e respeito. A denúncia é para os outros, os que se manifestam movidos por interesses torpes, não por convicção, mas por conveniência. Esses merecem o peso da palavra e a clareza da indignação.







