
Depois de virar alvo dos próprios enteados, Michelle Bolsonaro publicou uma série de notas que reorganizam a narrativa da crise no PL cearense — e reforçam sua posição como principal voz do bolsonarismo na disputa contra a articulação com Ciro Gomes.
A ofensiva começa com firmeza: “Não vou!” — resposta direta à pressão para reagir às críticas de Flávio, Eduardo e Carlos Bolsonaro. A ex-primeira-dama enquadra o conflito como um episódio de “nervos à flor da pele” em tempos de “injustiças e perseguições”, mas estabelece um limite: discorda dos filhos do ex-presidente e reivindica o direito de expressar sua posição política sem ser punida por isso.
Nos textos, Michelle costura três camadas de narrativa:
- Pessoal – reafirma amor ao marido, à filha e “à vida dos enteados”, pedindo compreensão e perdão. Mas avisa que, se tiver de escolher entre ser política ou esposa e mãe, “fica com as duas últimas opções”.
- Política – a aliança com Ciro Gomes é tratada como impossível de aceitar. No Ceará, diz ela, “não podia ficar calada”, porque Ciro “tanto mal fez ao meu marido e à minha família”.
- Moral – sustenta que apoiar o presidenciável cearense seria ir contra seus “valores, fé e coerência”, e compara a troca estratégica dentro da direita a “trocar Stalin por Lenin”.
A ex-primeira-dama rejeita categoricamente qualquer acordo com Ciro:
– “Ciro Gomes não é e nunca será de direita.”
– “É perseguidor e maledicente contra Bolsonaro.”
– “Foi responsável por rotular Jair como genocida.”
– “Xinga meu marido o tempo inteiro.”
A narrativa é construída para demonstrar que não há contradição possível entre bolsonarismo e aliança com Ciro — só ruptura. E o alvo não é apenas o adversário histórico do clã: Michelle também responde, ainda que indiretamente, aos setores do próprio PL que defendem a articulação no Ceará.
Ela reforça: outros podem apoiar a estratégia, “são livres para isso”, mas não têm o direito de atacá-la por discordar — “mesmo que essa fosse a vontade do Jair (ele não me falou se é)”.
Michelle encerra com um gesto público aos enteados: pede perdão e afirma que sua intenção nunca foi feri-los. Mas amarra tudo em torno de uma lealdade absoluta: ao marido, à família e ao “maior líder que esse país já teve — Jair Messias Bolsonaro”.
Leitura política
A sequência de notas não é apenas uma defesa emocional. É uma tomada de posição calculada, que:
- enquadra a crise como disputa moral, não estratégica;
- fragiliza a tese de pragmatismo do PL cearense;
- fortalece sua imagem de guardiã do “verdadeiro bolsonarismo”;
- e desloca o debate do campo eleitoral para o terreno identitário — onde ela vence de lavada.
O resultado não tardou: a AP Exata mostrou que Michelle foi quem mais recebeu apoio nas redes (44,7%), superando os próprios filhos de Bolsonaro (32,1%). Veja aqui completo.
Para a base bolsonarista, a briga não é sobre Ceará — é sobre quem mantém viva a marca do bolsonarismo.
No fim, Michelle produziu mais do que esclarecimentos: puxou para si o centro da narrativa e deixou o PL cearense com um problema político maior do que tinha antes de começar.







