
O fato: O Ministério de Minas e Energia (MME) e a Empresa de Pesquisa Energética (EPE) divulgaram o Caderno de Gás Natural do Plano Decenal de Expansão de Energia 2035 (PDE 2035), documento que projeta uma transformação estrutural na oferta nacional de gás natural. Entre 2025 e 2035, a produção líquida deve crescer 95%, de 65 para 127 milhões de metros cúbicos por dia (MMm³/dia), impulsionada pelo pré-sal e pela entrada de novos empreendimentos com processamento offshore. A oferta potencial na malha integrada também avança cerca de 85%, mantendo o país em situação de superávit durante toda a década.
Os detalhes: Os números consolidam o gás natural como um dos vetores centrais da política de desenvolvimento do governo federal. O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, afirmou que o planejamento reforça a estratégia de aumentar a infraestrutura de escoamento e fortalecer a segurança energética, destacando o programa Gás Para Empregar como pilar dessa expansão. Segundo ele, o Brasil reúne condições para ampliar a oferta interna e transformar o gás em instrumento de industrialização.
A oferta doméstica deve representar cerca de 70% da produção líquida, com forte concentração no Sudeste, região que abriga os principais hubs de processamento. O PDE também detalha as rotas de importação: oito terminais de GNL já operam no país e um novo terminal está previsto para Suape (PE), além da integração com o Gasoduto Bolívia-Brasil (GASBOL). O documento prevê redução gradual nas importações bolivianas, de 13 MMm³/dia em 2025 para 5 MMm³/dia em 2035, reforçando a necessidade de maior integração entre malhas regionais e novos investimentos em transporte.
Do lado da demanda, o PDE projeta crescimento médio de 6,2% ao ano, puxado principalmente pelo setor industrial, que deverá responder por 65% da demanda não termelétrica. Segmentos comercial, residencial e de transportes também devem avançar, enquanto o mercado downstream (refinarias e fábricas de fertilizantes) cresce 5,36% ao ano, com aceleração maior nos primeiros anos pela recomposição da capacidade produtiva e novas operações industriais. Já a demanda termelétrica seguirá condicionada ao comportamento da matriz elétrica.
Apesar da expansão do consumo, o país deve manter balanço superavitário até 2035. O estudo aponta que a oferta supera a demanda máxima em todos os anos, mas alerta para gargalos no transporte, especialmente no fluxo do Sudeste para o Centro-Oeste, Sul e parte do interior paulista, exigindo ampliações para garantir flexibilidade e escoamento contínuo.
O caderno também apresenta projeções de investimentos: projetos já previstos e próximos de entrar em operação somam R$ 16 bilhões, incluindo o gasoduto de escoamento Raia, o projeto Sergipe Águas Profundas (SEAP) e o terminal de GNL de Suape. Projetos indicativos avaliados no âmbito do Plano Nacional Integrado das Infraestruturas de Gás Natural e Biometano (PNIIGB) totalizam cerca de R$ 34 bilhões. Além disso, a EPE identificou mais R$ 135 bilhões em potenciais investimentos futuros, condicionados à decisão de agentes privados.






