[Uma ideia de liberdade, pitadas de opinião bem temperadas com ligeiro sabor doce-azedo de povo, dar ponto na massa, servir a gosto…]
Paulo Elpidio de Menezes Neto
Para aviar-se a democracia alguns ingredientes são indispensáveis. O respeito pela liberdade e pelas regras para uma composição ideal. Algumas poções são deitadas a gosto, outras por conta de uma exigente dosimetria de elenentos.
A democracia, como um bolo ou um pernil de peru, não se fazem de memória, ao calor do fogo ou do povo. Há que seguir a receita, carta institucionalizadora, atender a regras, uma espécie de consenso firmado entre os convivas e os que põem a mão na massa…
Para conservar o bolo ou o peru da festa democrática, e para que deles todos possam servir-se,outros cuidados não podem ser esquecidos: a celebração do compartilhamento, o comedimento diante da divisão, a vez de cada um à mesa. A ninguém é dado, por direito ou privilégio, espetar o bolo com o dedo, servir-se das duas coxas do peru ou do último pastelzinho esquecido. Na democracia, tem-se como hábito contar os votos, observar algumas regras de consciência, como comer e falar com a boca cheia.
Democracia, a exemplo da ceia de natal, é um rito de conviviabilidade,de respeito e confiança, animado pelo reconhecimento de que o ágape não se esgota com os apelos da gula — mas com a alegria do encontro.
Com a mão na massa
Reunir em um mesmo recipiente, território, povo, a língua e as raízes comuns, acrescentar os ingredientes para consolidação dos vínculos de solidariedade, dar-lhes consistência e levá-los ao ponto, antes de servir.
Untar a fôrma com um caldo de cultura bem dosado, adicionar gemas e clara batidas manualmente, para apurar o gosto e dar densidade às massas.
Dividir cuidadosamente em fatias para que não seja negada aos convivas a participação equitativa na celebração dos propósitos que levaram todos à mesa.
Como o aviamento de toda receita, o risco da democracia está em queimar a massa ou deixá-la crua. Por excesso de cuidados ou pela falta deles…








