
Há frases que sobrevivem porque carregam a inteireza de uma vida. A de Sobral Pinto não é apenas uma advertência. É um marco moral. Ele sabia que a lei, quando serve ao medo, perde o sentido. E sabia também que nenhum código tem força suficiente para sustentar a justiça se o homem que o interpreta se acovarda diante do poder.
A coragem de Sobral não era teatral. Era uma coragem silenciosa, construída na disciplina da consciência. Ele defendia quem não pensava como ele, porque compreendia que a defesa não é prêmio para afinidades, é compromisso com o humano. Foi isso que o levou a enfrentar celas escuras, tribunais parciais e governos que confundiam autoridade com abuso. Não buscava glória, buscava coerência. A justiça lhe era mais preciosa que qualquer conforto.
A grandeza de sua frase nasce dessa tensão. A advocacia exige quem diga não quando todos dizem sim, quem permaneça de pé quando a pressão ordena ajoelhar, quem compreenda que a dignidade é uma escolha diária. Sobral tinha essa firmeza que hoje rareia. Ele lembrava que a democracia não admite adjetivos e que nenhum país sobrevive quando seus juristas se tornam cúmplices do silêncio.
A figura dele ainda provoca inquietação. Não apenas pelos feitos, mas pela pergunta que deixa no ar. Quantos, diante da mesma tarefa, escolheriam o risco e não o cálculo? Quantos aceitariam defender o adversário em nome de um princípio que não se dobra? Sobral vive como lembrança incômoda e necessária. Mostra que o Direito perde alma quando o medo guia a decisão.
A advocacia não é profissão de covardes porque a justiça não sobreviveria a eles. E Sobral Pinto permanece como testemunho disso. Um homem inteiro que provou que caráter é a única toga que não envelhece.








