Com um discurso simples e emocionado, Camilo Santana se retira. Na fala final, agradecimentos vários. À familia, ao pai, aos irmãos Ciro e Cid Gomes, aos secretários, aos servidores e ao povo cearense. Para Izolda Cela, sua sucessora e a primeira governadora da História do Ceará, os elogios tangenciaram o futuro. Para Camilo, a força e a discrição de uma excepcional aliada. Palácio lotado, uma bela festa.
Nas primeiras filas separados por um cordão vermelho, vários políticos, membros do Judiciário, tribunais, reitores, e entre eles Roberto Claudio, que na primeira linha de possíveis candidatos, disputa com Izolda a indicação contra a oposição capitaneada por Wagner. Uma disputa que, por mais tensionada que venha a ser, era tudo o que aquela geração ali, majoritariamente, buscou conquistar. O direito de disputar eleições livres, algo tão básico e que hoje, volta a ser surrealmente atacada.
Conscientes daquele processo vários dos presentes, Eudoro Santana, René Barreira, Inácio Arruda, Osmar Pontes, dentre outros. Com esses, Izolda e Veveu Arruda, seu marido, vivenciaram os tempos sombrios ou mesmo o que restou deles. E acredito que nem tenham se dado conta da simbologia do momento.
Na verdade, alguns amigos que assistiam ao evento de casa, me despertaram sobre esse aspecto. Lembraram-me que Izolda presenciou aqueles tempos. E que de alguma forma tenha dali retirado a convicção de que algo poderia e deveria ser feito em prol da juventude mais simples. Convocada por Cid para a tarefa desse enfrentamento, conseguiu ao lado de Ivo Gomes e outros parceiros, como Idilvan Alencar, contínuas vitórias nessa direção.
No cenário da posse, residualmente, a costumeira presença dos amigos do poder, sempre ávidos pelas benesses do mesmo. Entre aplausos empolgados, pairava a silenciosa perspectiva sobre qual nome desse campo político fará frente ao desafio de manter o Ceará distante do (ultra) passado.
Nesse sentido, as apostas se multiplicam com a mesma convicção apressada e ingênua de que tudo não passa de um roteiro simples no qual o povo, os eleitores, poderão se quedar a apoiar qualquer um que saia das inspirações do grupo político ali instalado, como num espetáculo racionalmente calculado.
Mas nada será tão simples. Com Bolsonaro disputando a presidência e os alertas permanentes de que as eleições correm riscos, não bastarão acordos de bastidores. No Ceará, Wagner procura viabilizar-se ao mesmo tempo em que espera o adversário com quem irá esgrimar.
As bolsas de apostas ganham a cada dia novas vertentes. Tudo chama a atenção. Até mesmo uma despretensiosa aparição de Ciro, Cid e Camilo cantando juntos, apresenta-se para muitos como uma forte sinalização de que o triunvirato marchará junto na escolha do candidato ou candidata.
Ou seja, tanto Roberto Cláudio, o preferido de Ciro, como Izolda, que tem a preferência de Camilo, continuam incólumes no páreo. Claro que em tais circunstâncias, os nomes de Mauro Filho e Evandro Leitão jamais devem ser descartados.
Agora restam as pesquisas e a avaliação das performances eleitorais dos mesmos, a experiência, os prós e os contras de cada um para uma definição final.
Resta lembrar ainda que o quadro nacional e a tendência à polarização também deverão compor o cardápio das análises, processo no qual muitos tropeçam, já que trocam a parcimônia da degustação pela pressa em absorver os novos ingredientes.
Ocorre que, imersos nesses dias turbulentos, muitos são tencionados a esquecer que o tempo da política não se adequa necessariamente ao tempo dos desejos.
Talvez, o maior erro de avaliação sobre o curso dos processos atuais e o futuro daí decorrente, esteja na equivocada convicção de que algo poderá fracionar a decisão tomada entre os três ex-governadores, seja ela qual for.