A “Suits” brasileira: TST anula horas extras de falsa advogada

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🔴 A integridade da advocacia como valor inegociável
O exercício da advocacia está submetido a rigorosos requisitos legais e éticos, refletindo seu papel essencial na administração da justiça. Quando esses fundamentos são violados, toda a estrutura de confiança na profissão é colocada em risco. Foi com esse olhar que o Tribunal Superior do Trabalho, por meio da SDI-2, decidiu manter a nulidade de uma sentença que havia garantido vantagens a uma trabalhadora que, embora se apresentasse como advogada, havia fraudado sua inscrição na OAB. O caso acende um alerta sobre o impacto jurídico e institucional do exercício ilegal da profissão, reforçando que não há prerrogativas sem legitimidade.

🔴 Fraude anula jornada especial da advocacia
A Subseção II Especializada em Dissídios Individuais (SDI-2) do Tribunal Superior do Trabalho confirmou a nulidade de decisão judicial que havia reconhecido o direito à jornada especial de quatro horas diárias — prevista no art. 20 do Estatuto da Advocacia e da OAB (Lei nº 8.906/1994) — a uma trabalhadora que obteve registro profissional mediante fraude. A relatora, ministra Morgana Richa, foi categórica: não se pode estender prerrogativas da advocacia a quem exerce a profissão de forma ilegal.

🔴 Condenação penal e falsidade documental
A controvérsia surgiu após a Justiça do Trabalho em Goiás ter reconhecido o direito da trabalhadora às horas extras, por ausência de contrato de dedicação exclusiva com a Construtora Tenda S/A. No entanto, a empresa ajuizou ação rescisória ao comprovar que a trabalhadora fora condenada criminalmente por falsificação documental com o objetivo de obter o registro da OAB. Mesmo ciente da investigação penal, a autora moveu ação trabalhista cobrando direitos exclusivos de advogados.

🔴 “A ilegalidade se renova diariamente”, diz relatora
A ministra destacou que a fraude não se restringiu ao momento da inscrição: “A ilegalidade se perpetua a cada dia de exercício irregular da profissão”, disse. Assim, reconhecer efeitos jurídicos decorrentes da suposta condição de advogada significaria legitimar um crime e permitir enriquecimento ilícito, violando princípios éticos e legais fundamentais à advocacia.

🔴 Violação ao Código de Ética e ao Estatuto da Advocacia
A decisão reafirma o compromisso do Poder Judiciário com a moralidade da atividade advocatícia:

  • 📌 Art. 2º, §1º, do Estatuto da Advocacia (Lei nº 8.906/1994): “O advogado é indispensável à administração da justiça” — um título que não pode ser obtido por meios fraudulentos, sob pena de deslegitimação da própria função.
  • 📌 Art. 34, incisos I e XXV, do mesmo Estatuto: Tipificam como infrações disciplinares o exercício da advocacia sem inscrição na OAB e o uso de meios fraudulentos para obtenção de inscrição.
  • 📌 Código de Ética e Disciplina da OAB (2015), art. 1º: Estabelece que a advocacia deve ser exercida com independência, honestidade, decoro e boa-fé — valores absolutamente incompatíveis com a conduta da autora da ação.

🔴 Precedente relevante para a integridade da profissão
A decisão da SDI-2 foi unânime e reforça o entendimento de que o exercício da advocacia exige regularidade formal e ética, sendo inadmissível que o Judiciário reconheça benefícios a quem obtém o registro profissional de forma criminosa. O precedente consolida a tese de que o exercício irregular da advocacia compromete não apenas o contrato de trabalho, mas também a própria ordem jurídica e a credibilidade da profissão.

⚖️ Suits: Série norte-americana sobre o falso advogado

A série Suits, um sucesso mundial no streams, criada por Aaron Korsh, gira em torno de Mike Ross, um jovem brilhante com memória fotográfica, mas sem diploma de Direito nem registro na OAB norte-americana, que é contratado por Harvey Specter, sócio de um dos maiores escritórios de advocacia de Nova York.

Mesmo sem autorização legal para advogar, Mike atua em dezenas de casos, redige peças, participa de audiências e faz negociações complexas, tudo com base em seu talento e ética pessoal — o que contrasta com a ilegalidade estrutural de sua atuação. Ao longo da série, a fraude é escondida, depois exposta, e por fim enfrentada juridicamente, com consequências tanto para Mike quanto para o escritório.

Apesar do tom ficcional e dramático, Suits levanta discussões sérias sobre os limites éticos e legais do exercício da advocacia, o valor formal da habilitação profissional e os riscos institucionais de permitir que habilidades pessoais sobreponham-se à legalidade.

 

📂 Processo: ROT-10640-07.2021.5.18.0000
📌 Relatora: Ministra Morgana Richa
📍 Origem: TRT da 18ª Região (GO)

 

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