O terrorismo eleitoral não pode dominar o Brasil. Como ceder à insensatez de políticos engalfinhados pela vitória em uma reeleição, pondo em risco os ganhos econômicos arduamente acumulados pelo trabalho dos brasileiros, após décadas de governos ineptos e negligentes?
Como permitir tamanha dissipação de tempo e de recursos públicos para assistir à consolidação de um regime autoritário, sob a proteção da omissão e do silêncio de políticos, governantes, agentes públicos e dos círculos de inteligência que calam a opinião e a consciência política da nação?
Por quanto tempo ainda nos veremos expostos à execração da comunidade internacional, arregimentando alianças espúrias, enquanto nosso país se associa a ditaduras da Ásia, da África, do Oriente Médio e da América do Sul?
Como esconder o nosso atraso — e a dominação crescente de orientações políticas totalitárias que invadem o nosso país, a nossa casa e os nossos sentidos — sem que se esboce a reação que a gravidade dos conflitos exige?
Não é de moratória política que carecemos. É de moratória moral, ética e democrática. É da restauração das franquias de liberdade que, a cada dia, nos arrancam com nosso medo e nossas vergonhas.
Entrego-me — é decisão tomada —, se para tanto não me faltarem determinação e controle, ao silêncio obsequioso, recolhido a leituras exemplares e edificantes, no recolhimento virtuoso, ao fundo da minha caverna.
Comigo, trouxe meus livros, os fungos e os ácaros, térmitas e vermes nos quais confio para minhas abluções espirituais.
Já fiz idênticas persignações e autoflagelações penitentes no passado — de outras vezes, para esquecê-las ao primeiro movimento da chegada de mais tresvarios e incontinências verbais à praça.
Não sei se suportarei o peso do martírio de tanto silêncio, diante de tentações tão poderosas.
