Agosto guarda um marco singular no calendário cívico brasileiro: o mês em que celebramos a Advocacia. Não se trata apenas de uma profissão, mas de uma função sem paralelos, pois é a única atividade privada a merecer assento na Constituição Federal. Não foi generosidade, mas reconhecimento: sem advogados não há contraditório, não há devido processo legal, não há democracia que resista.
A história nos lembra disso com clareza. Ruy Barbosa, Sobral Pinto, Myrthes Gomes de Campos — cada um, à sua maneira, emprestou à nação a coragem da palavra. Foram mais que profissionais do direito: transformaram-se em vozes que ecoaram contra o silêncio das opressões. Anos depois, na Constituinte de 1988, advogados não se limitaram a ocupar cadeiras parlamentares, mas teceram, fio a fio, as garantias que hoje sustentam o Estado Democrático de Direito.
Em tempos mais recentes, a Ordem dos Advogados do Brasil deu mostras de sua relevância ao lançar mão de instrumentos constitucionais e judiciais próprios, exercendo o papel de contrapeso necessário ao equilíbrio entre os Poderes. Sua força não se revela em alinhar-se a bandeiras partidárias, mas em permanecer altiva e independente, para que a advocacia cumpra o que a Constituição lhe destinou: ser a voz que vela pela legalidade e guarda a democracia.
É essa voz que precisa ser constantemente reavivada, sobretudo em tempos em que os poderes se entrechocam e se confundem, em que o próprio Judiciário é alvo de olhares desconfiados, ora acusado de ir além, ora de se omitir. A advocacia não se presta a amplificar ruídos, mas a devolver clareza, lembrando que sua missão é dar ao cidadão a certeza de que ainda há quem o represente diante da lei.
Por isso, celebrar o Dia da Advocacia não é apenas render homenagem a uma classe profissional. É, sobretudo, refletir sobre o tom dessa voz no presente e no futuro: queremos que se limite a uma formalidade institucional, marcada por sucessões previsíveis, ou que se mantenha viva, vibrante, capaz de enfrentar as contradições do nosso tempo?
A advocacia é mais que um ofício, é um instrumento civilizatório. Sua voz se projeta das tribunas aos balcões forenses, das audiências discretas às causas que mobilizam a opinião pública. Ela sustenta contratos que fazem a economia girar, ações que garantem o acesso à saúde e defesas que preservam a dignidade humana. No entanto, sua verdadeira grandeza está em algo maior: na missão cívica de proteger o Estado Democrático de Direito.
Enquanto houver advogados que compreendam esse chamado, o país atravessará suas turbulências sem perder de vista o horizonte da justiça, porque a advocacia, mais do que uma profissão, é a voz que não pode se calar.