
Amazon Brasil: Troca no comando, bilhões na mesa
O País se tornou o principal foco de expansão da gigante do varejo online no mundo — e o apetite por crescimento não dá sinais de trégua.
Antes de assumir o comando, Juliana Sztrajtman já era peça-chave como diretora de varejo. Agora, tem a missão de turbinar vendas, encurtar prazos de entrega e manter a Amazon entre os players mais agressivos do setor.
“A decisão este ano foi de investir ainda mais”, diz. Só nos últimos dois anos foram R$ 8 bilhões aportados no Brasil — uma fatia relevante dos R$ 33 bilhões investidos desde 2011.
Mercado aquecido
A corrida faz sentido: o e-commerce brasileiro é um dos que mais crescem no mundo. O comércio eletrônico com notas fiscais emitidas no País movimentou R$ 225 bilhões no ano passado, crescimento de 14,6% sobre 2023 e de 311% nos últimos cinco anos. Os números foram divulgados semana passada, na terceira edição do Dashboard de Comércio Eletrônico Nacional, desenvolvido pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), com dados da Receita Federal.
As vendas de micro e pequenas empresas (MPEs) brasileiras pelo comércio eletrônico cresceram cerca de 1.200% nos últimos cinco anos, saltando de R$ 5 bilhões em 2019 para R$ 67 bilhões em 2024.
Os números mostram que as empresas de médio e grande porte também tiveram forte crescimento nessa modalidade, mas em nível porcentualmente menor – saindo de R$ 49 bilhões para R$ 158 bilhões no mesmo período, aumento de 220%.
Mobile manda no jogo
Mais de 70% das compras online já partem do mobile, segundo a NielsenIQ|Ebit. O desktop resiste em nichos de ticket médio mais alto ou compras corporativas, mas o celular reina absoluto na base da pirâmide. O avanço vem, sobretudo, das classes C e D, que ampliaram o acesso a smartphones e crédito digital. Geograficamente, o Sudeste ainda domina, mas Norte e Nordeste lideram em crescimento proporcional.
Briga de gigantes
Nesse cenário, Amazon e Mercado Livre (MELI34) seguem duelando por preço, sortimento e velocidade de entrega, enquanto Magalu tenta manter o fôlego diante da pressão das multinacionais e da ofensiva asiática — com Shopee à frente.
Juliana Sztrajtman tem mandato claro: expandir o sortimento — hoje com 150 milhões de itens — e reduzir o tempo de entrega. Para isso, novos centros de distribuição e estações de última milha estão no radar.
Maior CD da América Latina
Em fevereiro, a Amazon inaugurou, em Cajamar (SP), seu maior centro de distribuição na América Latina: o GRU9. O espaço equivale a seis Mercados Municipais de São Paulo e combina estoque próprio e o Fulfillment by Amazon (FBA), programa que cuida da logística de lojistas parceiros.
“Este é o ano do FBA”, afirma a CEO. Hoje, são cerca de 100 mil lojistas no marketplace — muitos já aderiram ao programa. O plano é expandir o FBA para mais estados e integrar novos centros de distribuição. A meta é abrir mais dois CDs até o fim do ano — os locais não foram revelados. No total, já são 12 CDs e mais de 140 estações de entrega.
O teste de fogo: Prime Day
A engrenagem será posta à prova nos dias 15 e 16 de julho, com o Prime Day — evento de ofertas exclusivo para assinantes do Amazon Prime. “A expectativa é crescer muito em clientes, faturamento e unidades entregues”, projeta Sztrajtman.
Sustentabilidade no radar
Além de acelerar, a Amazon quer reduzir impacto. Sztrajtman garante: “Temos um compromisso global de zerar nossas emissões de carbono até 2040. A tecnologia, a inteligência artificial tem que ser aliada nisso.” A IA ajuda a otimizar rotas de entrega para torná-las mais eficientes. Parceiros como a To Do Green realizam entregas com veículos elétricos, sem emissão de carbono.
Outro exemplo é a Favela Log, que opera entregas em comunidades com centros logísticos dentro das favelas. “Também de forma eficiente”, reforça a executiva. No front de energia renovável, a Amazon já conta com uma usina solar de 122 MW e um parque eólico de 49,5 MW no Complexo de Seridó, no Rio Grande do Norte.
A empresa lançou ainda o Climate Pledge Friendly (Compromisso Amigo do Clima) no Brasil, selo que destaca produtos com características sustentáveis, seguindo mais de 40 certificações.
Brasileiros para brasileiros
Apesar do alinhamento das big techs ao novo governo dos EUA, Sztrajtman garante que políticas de diversidade não mudaram por aqui. “Somos uma empresa americana, mas 99% dos nossos funcionários são brasileiros. É uma operação de brasileiros para brasileiros. E olhamos para as necessidades do cliente que está aqui.”
Com 18 mil colaboradores diretos e indiretos no País, a CEO defende o equilíbrio entre tecnologia e capital humano. “Queremos o avanço tecnológico porque ele pode ajudar em muitos pontos, mas o ser humano é fundamental na diversidade e criatividade.”
No radar: crescer sem perder velocidade — nem responsabilidade. E fazer do Brasil o motor mais quente da Amazon no mundo.