“As armas e os varões assinalados,
Que da ocidental praia Lusitana,
Por mares nunca dantes navegados,
Passaram ainda além da Taprobana…”
— Luiz Vaz de Camões, Os Lusíadas
A Corte do Regente, em Mafra — futuro Dom João VI —, tinha como certa a chegada do general Junot, sob ordens napoleônicas, para a conquista da Lusitânia.
O Conselho de Estado reunia-se em estado permanente de vigília e exasperação patriótica:
“Napoleão verá do que somos capazes”, pensavam os ministros, solidários ao príncipe-regente. Todos em uníssona cumplicidade, ainda que recolhidos às suas sábias conveniências.
O Conselho abrigava figuras exponenciais da monarquia portuguesa — até generais “administrativos”, aqueles que haviam desistido de pelejar. Dentre os ministros, havia radicais que riam de Junot e do cerco longamente anunciado de Lisboa. E punham-se ao lado de uma resistência inegociável ao Corso.
Eram os ministros “ingleses”, que apoiavam a guerra da Inglaterra contra as hostes napoleônicas. Outros, os “franceses”, opunham-se a estremecimentos de tamanha magnitude e mostravam-se simpáticos a uma negociação de paz com Napoleão. Assim teriam ficado, a alisar ideias improváveis, não fosse a precipitação dos eventos — e a pressa de Junot, inquieto por mostrar serviço nos registros da História.
Como não se pusessem de acordo nas suas divergências, arrastaram os móveis e a biblioteca real para o cais de Lisboa, em ligeiras manobras de embarque em caravelas e brigues sob a bandeira do Reino Unido — rumo ao Brasil, a plantar uma nova civilização nos trópicos, que bem disso aquelas terras estavam precisadas…
Nosso “Napoleão”, em versão IA, cinco séculos transcorridos, a descoberto, sem o chapéu de dois bicos nem o seu ginete branco, ameaça desembarcar em Brasília, armado de ordenações condenatórias, com a Sétima Cavalaria do general Custer sob seu comando.
Os ministros e os oficiais da diplomacia resistem a qualquer acordo. Trabalham ainda, exaustivamente, na redação de um texto definitivo que ponha o invasor no seu devido lugar — sem adjetivos, advérbios, anacolutos, mesóclises ou… interjeições.