Bob Fischer e Mikhail Tal, tabuleiros Nº 1 do mundo; Por Augustino Chaves

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Efeito sobre a foto: Bobby Fischer (à direita), com apenas 16 anos, joga contra o russo Mikhail Tal em um torneio internacional de xadrez em Zurique em 1959Imagem: Jules Vogt/PHOTOPRESS-ARCHIV/KEYSTONE/picture Alliance

Por Augustino Chaves
Especial para o Focus

Quem diria, a existência de dois vídeos do início dos anos 1970, vídeos despretensiosos que se tornaram uma jóia: em um deles, a estrela de Bob Fischer; em outro, a estrela de Mikhail Tal.

Bob Fischer, no seu natural modo simpatia total, gestos rápidos, quase brincalhão, tão à vontade na vida quanto no tabuleiro.

O “furacão do Brooklin”. Sou-lhe admirador, mas qual o jogador de xadrez que não é? Implacável, férrea lógica, domínio de cada casa do tabuleiro.

Por sua vez, no outro vídeo, Tal, o mais diferente filho da Escola Russa, do suntuoso Clube de Xadrez de Moscou. Dali saiam os campeões mundiais.

Depois da Segunda Grande Guerra, Estaline colocou o xadrez entre as prioritárias políticas públicas do Estado.

(Antes de continuar nessa nossa prosa, incorreria em desprezo à memória de milhões não nominar esse que foi mais uma edição de czar, nas barbas do século XX: Estaline, a encarnação do terror).

O imaginário dos eslavos subiu significativos pontos no cenário da guerra fria, afinal eles eram os campeões de xadrez, essa mesma inteligência da primazia da viagem espacial, e Gagarin a nos confidenciar o azul da Terra.

Essa Escola de Xadrez, única, sem contraponto no Mundo, produziu os melhores Grandes Mestres e o título mundial emergia de seu living.

O Ocidente, entretanto, nunca termina atrás: somos os verdadeiros campeões. Do “nada” avultou Bob Fischer.

O garoto prodígio, órfão de apoio oficial. Bastou-lhe a atmosfera de liberdade e confiança que anima NY. Respirou esse ar, encheu os pulmões e a mente desse ar.

Em outro vídeo, o russo Tal, naqueles dias o mais jovem campeão mundial, aos 24 anos de sua vida. Tal, escorpião, chegou ao Mundo no dia 9 de novembro, do ano de 1936. Sou-lhe seu admirador, mas qual o jogador de xadrez que não é?

Fischer, pisciano, chegou ao mundo em 9 de março, do ano de 1943. Arrebatou o título de campeão mundial em 1972, portanto, aos 29 anos de sua vida.

Tal era o mago do xadrez, nascido na Letônia, “o mago de Riga”: antes dele ninguém sequer ousaria cogitar, nos torneios de gente grande, colocar em vigência a dimensão da aventura, do inesperado, porque seria ingenuidade, porque seria temerário, porque seria questionar o “xadrez científico”, a orgulhosa marca da Escola Soviética, nos termos do proselitismo geral do governo. Mas a criança estava viva no adulto Tal, no seu foro íntimo.

Tal e Fischer. O placar entre os dois? Antes de responder esse placar, vou avisar a vocês que Fischer arrasava, o Furacão do Brooklin.

Esse furacão, essa força, conseguiu placar superior em face de todos os jogadores, exceto, adivinhe você com quem? Sim, ele mesmo, Mikhail Tal, mago de Riga: no total de 6 partidas, cada um venceu duas e foram dois empates.

Cada um representa bem sua geografia: o ocidental Fischer, morador de NY, a força do que essa cidade representa.

O oriental Tal, avultando das gélidas águas de Riga, guardando verdades outras, como se sua resposta à vida naquelas plagas inóspitas também politicamente fosse essa: tornar-se prestidigitador, Mago. Imbatível.

A morte é nosso denominador comum: “Xeque tu dizes à vida, e julgas, homem, ser forte, mas no final da partida, xeque-mate diz a morte”.

Então, tudo bem, os dois faleceram. Dois campeões, dois super-talentosos, dois homens belos a nada dever aos mais belos do cinema.

Os caprichosos deuses, entretanto, lhes impuseram dias amargos antes da morte: o alcoolismo de Tal e a morte precoce, antes dos 60; a Fischer a perda do discernimento, extraviado nas mais desvariadas teorias da conspiração. A tragédia grega nos avisou, nós outros é que não acreditamos jamais. E não eram mais pulcros, o rosto como que devastado pelos anos.

O que resta então? A lição do sublime, expostas nesses dois vídeos. O resto é resto. Somos campeões.

 

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