
O fato: O Ceará desembarcou em Cannes com mais do que filmes. No maior festival de cinema do mundo, o estado projeta seu audiovisual para o mercado global com obras financiadas por políticas públicas e ações estruturantes de fomento à economia criativa. Quatro curtas-metragens produzidos com apoio da Secretaria da Cultura do Estado (Secult Ceará) foram exibidos nesta quarta-feira (14) na abertura da Quinzena de Cineastas, uma das mostras mais prestigiadas do Festival de Cannes. E, nesta quinta-feira (15), a titular da Secult, Luisa Cela, participa de uma conferência que coloca as políticas públicas cearenses no radar de investidores, produtores e gestores internacionais.
No contexto do “Ano do Brasil na França”, a cultura cearense marca presença com identidade, força institucional e resultados concretos. Os filmes exibidos foram realizados no âmbito do projeto Directors’ Factory Ceará Brasil, uma parceria entre a Escola Porto Iracema das Artes, o Museu da Imagem e do Som do Ceará (MIS CE) e a coprodutora francesa DW. As obras — A Fera do Mangue, A Vaqueira, a Dançarina e o Porco, Ponto Cego e Como Ler o Vento — foram filmadas em Fortaleza e envolveram mais de 100 profissionais locais da cadeia do audiovisual.
Modelo Ceará é vitrine de política pública no Marché du Film: A participação do Ceará vai além das telas. Na conferência “O Ecossistema Audiovisual Brasileiro e suas Instituições”, a secretária Luisa Cela apresentou os fundamentos do Programa Estadual de Desenvolvimento do Audiovisual e da Arte e Cultura Digital, estruturado em sete eixos: Produção, Distribuição, Exibição, Preservação, Formação, Rede Institucional e Legislação. A mesa reuniu nomes como a ministra da Cultura, Margareth Menezes, o embaixador do Brasil na França, Ricardo Neiva Tavares, e representantes do BNDES, Ancine, Spcine, RioFilme e gestões culturais de outras capitais.
O objetivo foi claro: apresentar o Ceará como território de políticas públicas consistentes e de resultados mensuráveis, com impacto direto na economia, geração de emprego e afirmação de identidade. A iniciativa ocorre no Marché du Film, um dos maiores eventos de negócios do setor no mundo, com participação de agentes internacionais do audiovisual.
R$ 129 milhões em 10 anos e resultados em tela: De 2014 a 2024, o Governo do Ceará investiu mais de R$ 129,7 milhões em fomento direto ao audiovisual, com 10 editais que beneficiaram 574 agentes culturais e financiaram 727 projetos em 69 municípios cearenses. Além da produção, o estado investe em formação técnica e artística, preservação e distribuição. Três salas públicas integram a rede estadual de exibição: uma no Cineteatro São Luiz e duas no Cinema do Dragão.
Em 2024, sete longas-metragens cearenses chegaram simultaneamente às salas comerciais em diversas regiões do país — um feito inédito entre estados fora do eixo Rio-São Paulo. Em 2025, Motel Destino, de Karim Aïnouz, disputa a Palma de Ouro no festival francês, consolidando o momento histórico vivido pelo cinema cearense.
Formação, preservação e futuro da indústria criativa no estado: Com foco estratégico na formação, o estado mantém instituições como a Escola Porto Iracema das Artes, o Centro Cultural Bom Jardim e o Hub Cultural Porto Dragão. Um exemplo é o programa Cena 15, de desenvolvimento de roteiros, que desde 2013 formou 120 jovens criadores e ajudou a viabilizar projetos que já captaram mais de R$ 18 milhões.
Na preservação, o Laboratório do MIS CE vem se destacando em processos de digitalização e restauração de obras históricas, como o filme Chico da Silva (1976), de Pedro Jorge de Castro. O trabalho vem sendo apresentado em mostras especializadas no Brasil, como a CineOP e eventos do Itaú Cultural.