Ciro no PSDB: 10 notas sobre a filiação; Por Emanuel Freitas

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Parte do que se desenha como cenário da disputa eleitoral no Ceará em 2026 começou a ganhar contornos mais nítidos na última quarta (22/10), com a filiação de Ciro Gomes ao PSDB, partido pelo qual se capitalizou nacionalmente.

Uma vez que o/a leitor/a já deve ter lido sobre o fato em si, cumpre a este singelo autor pontuar o fato em algumas breves “notas” e convidá-lo/a para, juntos, acompanhar o desfecho disso aqui no Focus Poder até outubro de 2026:

1-Ciro está, ao menos discursivamente, ainda com uma boa forma política: críticas ácidas, pitadas de bom humor e números compõem, ainda, seu bom linguajar político, que produziu o ethos pelo qual é conhecido;

2-A julgar pelo que se viu ontem (no vídeo institucional que abriu o evento, na trilha sonora e em parte dos personagens que compunham o staff), em sendo candidato ao governo, Ciro terá uma campanha aos moldes do “Cambeba”, ou seja, conduzida estreitamente pelo modo Tasso Jereissati de compreensão da política. Tudo ali, embora referindo-se a Ciro e em busca de enaltecê-lo como o grande cavaleiro que salvará o Estado das “garras do petismo” parecia reproduzir, ipsis litteris, as campanhas vitoriosas da Era Tasso;

3-Merece destaque o silencioso imposto aos novos aliados de Ciro: os bolsonaristas do Ceará. Ali estavam dos deputados André e Alcides Fernandes, Jaziel e Silvana Pereira – líderes incontestes do grupo político aqui. Além de terem de ouvir críticas de Ciro e de Tasso à polarização, com direito à dúvida quanto à “inteligência” dos que apoiaram as medidas de Donaldo Trump contra o Brasil (todos os que ali ouviam isso), nenhum bolsonarista raiz teve direito à fala no ato. Dessa oposição de direita, apenas o prefeito de Juazeiro do Norte, Gledson Bezerra, tido como moderado e de partido da base aliada (de lá e de cá), é que discursou. Sinal do que será feito na campanha, com um certo silenciamento do bolsonarismo raiz?

4-Por falar em bolsonarismo, foram notórias as ausências de Eduardo Girão, Carmelo Neto (e sua esposa) e Priscila Costa (esta, aliás, deve ter visto Ciro falar em Alcides como “grande nome” para o Senado).

5-Coube ao trio Roberto Cláudio, Tasso Jereissati e Ciro Gomes os maiores tempos de discurso e as maiores críticas ao estado de coisas que nos cerca, com destaque para inúmeras críticas ao PT, que deverão dar o tom da campanha que se aproxima.

6-Em se tratando de Roberto Cláudio, é digno de nota que seu destino partidário ainda não se resolveu. Desfiliado antes de Ciro, anunciado seu novo partido há meses e primeira aposta da oposição à disputa do ano que vem, o ex-prefeito ainda não viu nada de concreto realizar-se: nem filiação partidária nem escolha de seu nome para a sucessão de Elmano de Freitas. As cenas que circulam de seu aniversário nos mostram um Roberto posto de lado frente ao interesse de ver Ciro candidato.

7-As muitas críticas ao estado de coisas na política cearense, feitas por todos os que discursaram, deixam passar incólume a persona de Cid Gomes: não há mais, nem pode haver, na boca da oposição  a categoria “Ferreira Gomes” para materializar o que de ruim há por aqui, uma vez que Ciro Ferreira Gomes é o novo cavaleiro a nos salvar. Daí, Cid é poupado, mesmo quando seu irmão ataca o “presidente do PSB“, esquecendo-se de quem é o grande operador político a inflar de filiados os quadros do partido, inclusive insistindo na ideia da candidatura ao Senado de alguém com acusações (“ficha corrida”, como Ciro faz questão de dizer).

8-Mulheres de políticos e mulheres políticas, como as deputadas estaduais Silvana e Emília Pessoa, estavam no palanque, mas não foram convidadas a falar. Bola fora!

9-O governismo também entrou em campo na quarta: numa simbólica imagem compartilhada pelo chefe da Casa Civil podia-se ver, ainda pela manhã, os “verdadeiros líderes” do Ceará além dele mesmo, Elmano, Camilo, Evandro e Cid. Todos com largo sorriso. Riam de Ciro ou estavam a sorrir despreocupados?

10– O ato trouxe os holofotes da imprensa nacional ao Ceará. Além dos jornais locais, todos os grandes veículos de comunicação nacionais noticiaram o fato, dando mostras da nacionalização da persona de Ciro no jogo político.

É isso. Até 2026, muito ainda para compartilhar como você!

Emanuel Freitas da Silva é articulista do Focus Poder, professor adjunto de Teoria Política da Universidade Estadual do Ceará (UECE) e Doutor em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC).

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