Veterano do jogo político, o prefeito de Maracanaú, Roberto Pessoa (União Brasil), certamente usou as melhores palavras ao descrever o modo de fazer política no Brasil de hoje. Em uma fala que beira a autocrítica, sem corar, expôs o que se tornou a regra do jogo neste Brasil varonil: o poder está à venda, e o interesse é apenas financeiro, seja de grupos ou de indivíduos.
O que ele disse:
Ao comentar acerca da postura do seu União Brail na disputa estadual de 2026, Pessoa disse o seguinte: “Tem que ver o que é o melhor para o partido na hora, tem que esperar. Como vai ser, por exemplo, se o Lula começar a derreter como está derretendo? O Elmano está morto. E você sabe que todo mundo é oportunista. Os partidos são oportunistas. Quer apoiar quem pensa que vai ganhar. É buscar apoio, depois, se perder, vai para o governo. É assim, ninguém quer ir para oposição.”
Trocando em miúdos, é bom o governador Elmano de Freitas (PT) colocar as barbas e molho. A coisa toda está tão disseminada que não gerou indignações. Pelo visto, estão todos dando como perdido.
E foi além:
“Todo partido tem seus interesses, aliás, eu brinco muito que os partidos de hoje tudo é União Brasil SA, PT multinacional… Tudo é dinheiro, essas emendas parlamentares, os partidos só pensam em dinheiro. Cada partido quer aumentar o número de deputados para ter mais fundo partidário. Por isso que eu chamo os partidos tudo de SA: só pensa em dinheiro e o povo fica de lado. E eu respeito isso.”
Por que importa:
• Pessoa sabe do que está falando. Com décadas de atuação, de deputado a prefeito, conhece como poucos os bastidores da política – e descreve com maestria um sistema que ajudou a construir.
• Seu cinismo não mascara a realidade: partidos se movimentam pelo cálculo frio de quem pode vencer. Se o barco afunda, abandonam sem pudor. É a falência do que se entende por política.
• As alianças não são sobre projetos, mas sobre quem garante mais poder e dinheiro. Emendas parlamentares, fundo partidário e cargos. O povo? Fica de lado.
• A política, na visão de Pessoa, virou negócio. Mandato é ativo, partido é empresa, e o compromisso é com o caixa, não com a sociedade.
Pessoa jogou luz sobre o que muitos fingem não ver: a política brasileira está dominada por um pragmatismo bruto, onde o jogo de interesses é escancarado e o cinismo, regra. O sistema está corrompido. Roberto Pessoa é um caso pecular de nossa política: sempre militou no que a esquerda chama e direita, mas é de longa data um aliado da esquerda. Portanto, está bem à vontade para dizerque disse.