
Panorama rápido:
Donald Trump quer aplicar tarifas de até 65% sobre produtos fabricados na Chinas. A estratégia, que visa conter a ascensão de Pequim, pode ter o efeito inverso — e acelerar a autossuficiência e o protagonismo global da China. É o alerta da The Economist e do cientista político Oliver Stuenkel, da FGV.
Por que importa:
A China enfrenta desafios internos — deflação, crise imobiliária e envelhecimento —, mas está melhor preparada do que há uma década para enfrentar o embate com os EUA. Trump pode estar oferecendo o pretexto perfeito para Xi Jinping acelerar sua estratégia de longo prazo: reduzir a dependência do Ocidente e assumir a liderança em setores-chave do século XXI.
O que está acontecendo:
• Tarifas agressivas: Trump propõe sobretaxas que podem chegar a 65% sobre produtos chineses.
• Resposta de Pequim: Xi Jinping já vinha antecipando esse cenário desde 2012, investindo em inovação, controle de cadeias produtivas e fortalecimento de empresas estratégicas.
• Setores de destaque: A China lidera globalmente em carros elétricos, drones e IA, mesmo sob sanções americanas.
• Nova fase doméstica: Pequim começa a sinalizar uma reaproximação com o setor privado e prepara pacotes fiscais. Estímulos de até 10 trilhões de yuans estão no radar, com foco em consumo interno.
Entrelinhas:
Mesmo combalida em áreas tradicionais, a China vem se ajustando para o mundo pós-globalização liderado por Washington. As tarifas de Trump, em vez de sufocar, podem acelerar essa transição — inclusive com apoio popular interno, diante do nacionalismo econômico.
O risco para os EUA:
Trump enfraquece alianças tradicionais e envia sinais erráticos na política externa. Isso cria um vácuo de liderança global, especialmente no Sul Global — e a China está pronta para ocupar esse espaço.
Vá mais fundo:
• A diplomacia climática é um campo estratégico que Trump tende a abandonar.
• Se a China liderar o corte de emissões enquanto exporta tecnologias verdes, ganha credibilidade global.
• No cenário do “América Primeiro”, quem pode acabar sendo “grande de novo” é a China.
O que diz Oliver Stuenkel:
“O ‘Make America Great Again’ pode acabar sendo o maior presente geopolítico que Pequim recebeu neste século.”
No radar do Brasil:
Em meio ao redesenho da ordem global, países do Sul — como o Brasil — ganham margem de manobra. A influência crescente da China pode alterar dinâmicas comerciais, tecnológicas e diplomáticas com impacto direto na região.