
O ministro do Supremo Tribunal Federal Flávio Dino identificou indícios de desvio de finalidade no uso de recursos do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs) e determinou que Executivo, Câmara dos Deputados e Senado prestem esclarecimentos sobre o possível desvirtuamento das funções da autarquia.
A medida foi tomada após operação da Polícia Federal, autorizada pelo ministro, que apura superfaturamento, desvio de emendas parlamentares e obras suspeitas executadas pelo Dnocs no Ceará. A investigação coloca sob escrutínio um órgão histórico da política de convivência com o semiárido, que teria passado a realizar obras alheias à sua missão.
O que detonou a reação de Dino
Uma auditoria da Controladoria-Geral da União (CGU) concluiu que, entre 2021 e 2023, cerca de 60% das contratações do Dnocs foram destinadas a pavimentação, compra de máquinas e intervenções fora de sua área de competência. Esses contratos consumiram parte relevante do orçamento que deveria financiar:
- obras hídricas,
- açudes,
- barragens,
- sistemas de abastecimento,
- e ações estruturantes para enfrentar a seca no Nordeste.
Para Dino, o quadro sugere um possível desvirtuamento institucional, impulsionado por emendas parlamentares que direcionaram o órgão a serviços sem relação técnica com sua função original.
Nomes citados e repercussão política
A operação também mencionou o deputado federal cearense Robério Monteiro, que se manifestou publicamente negando qualquer irregularidade e afirmando não ter participação nas contratações investigadas. A inclusão do nome do parlamentar reacendeu o debate sobre a influência política sobre órgãos federais no Ceará, especialmente aqueles ligados à infraestrutura e repasses para municípios.
Por que isso importa
1. O Dnocs teria mudado de função sem autorização
Se confirmados os indícios, o órgão passou a atuar como executor de obras municipais, deixando de lado sua finalidade de garantir segurança hídrica. Isso afeta diretamente regiões cearenses e nordestinas que ainda dependem de obras estruturantes para conviver com períodos prolongados de estiagem.
2. Risco de captura por emendas
A concentração de recursos em projetos que fogem à missão do órgão sugere possível captura do orçamento por interesses políticos, drenando recursos de áreas prioritárias e de impacto social elevado.
3. Escalada institucional
Ao exigir explicações formais dos Três Poderes, Dino dá um sinal claro: a questão não se limita a irregularidades pontuais — pode envolver falhas estruturais de governança, descontrole sobre emendas e enfraquecimento de políticas públicas.
O que esperar agora
Com o prazo estabelecido pelo STF, a União e o Congresso deverão esclarecer:
- por que o Dnocs executou ações fora da sua missão;
- como foram aprovados os contratos em questão;
- quem autorizou as obras e com quais estudos técnicos;
- e quais mecanismos falharam na fiscalização interna.
As respostas tendem a definir os rumos do caso — desde recomposição institucional até possível responsabilização administrativa e criminal de agentes envolvidos.
O que ainda precisa ser apurado
- Quais municípios do Ceará receberam obras investigadas.
- Quem são as empresas contratadas, seus sócios, histórico e volume de contratos.
- Por que o Dnocs não declarou impedimento quando recebeu demandas incompatíveis com sua função.
- Como a autarquia passou a operar obras típicas de prefeituras — e quem se beneficiou desse arranjo.
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